Lisboa vai ter Rés do Chão velhos com cheiro a novo

Margarida, Mariana, Marta e Sara são as quatro arquitectas que se propuseram reabilitar os pisos térreos de espaços comerciais desocupados

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Rés do Chão

Há cerca de três meses que projecto Rés do Chão anda a reabilitar o número 119 da Rua do Poços Negros, uma antiga mercearia, sem uso há mais de dez anos que “apresentava sinais concretos de degradação”. A Freguesia da Misericórdia, em Lisboa, onde se encontra este espaço, tem, como outras zonas da cidade e do país, espaços comerciais desocupados e em ruínas a cada canto.

Sara Brandão, uma das fundadores do projecto, conta que a ideia surgiu quando as arquitectas se deram conta do enorme esvaziamento dos espaços comerciais térreos. “Segundo a União das Associações de Comércio e Serviços, em 2012 fecharam 13 estabelecimentos comerciais por dia na zona de Lisboa.” A ideia fundamental do projecto que arrecadou, em 2013, o 3º prémio da FAZ – Ideias de Origem Portuguesa, é a “criação de uma rede de pisos térreos ocupados e reabilitados [que] irá trazer mais pessoas à cidade, contribuindo para a economia local e iniciando um ciclo de recuperação dos edifícios degradados e do espaço público.”

No futuro, estes espaços devolutos vão dar origem a lojas pop-up, espaços de co-working, onde poderão ser desenvolvidos workshops e oficinas.

Foi num sistema de ocupação partilhado que as quatro arquitectas encontraram a solução para os espaços reabilitados. Segundo Sara, esta é “uma forma mais sustentável de arrendar um espaço comercial, permitindo várias pessoas que têm interesse em trabalhar, produzir e vender os seus produtos em espaços térreos, pagar uma renda mais económica.”

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Os materiais de construção são doados por empresas que se aliam ao projecto

A equipa pretende combater a realidade de que a presente crise económica impossibilita muitas pessoas de “suportar o encargo de um arrendamento de longa duração”. É na rotatividade que assenta o sistema de arrendamento temporário dos espaços reabilitados o que, diz Sara Brandão, é vantajoso, tanto para o arrendatário, como para o proprietário. Para os arrendatários, este é um sistema que lhes permite “iniciar os seus projectos profissionais” sem ter grande risco de investimento. Enquanto, para os proprietários, é mais vantajoso “ter os espaços arrendados por apenas um ano ou mesmo seis meses” do que mantê-los desocupados, para além de que lhes permite explorar “os seus imóveis de formas menos convencionais”.

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Qualquer pessoa pode candidatar-se a ser proprietário e arrendatário do Rés do Chão

Actualmente, o projecto encontra-se numa fase inicial em que a equipa está a desenvolver “uma base de dados de proprietários de pisos térreos desocupados e estruturar uma rede de potenciais arrendatários destes espaços”, tendo em conta as características desses lugares, o género de negócio proposto pelos arrendatários e as características da própria área.

O projecto para o 119 da Rua do Poço dos Negros foi feito pela equipa da Rés-do-chão, mas há várias empresas envolvidas na reabilitação da antiga mercearia. Aliam-se ao projecto, doando materiais ou disponibilizando mão-de-obra qualificada. Ainda assim, “tendo em conta os conhecimentos da equipa do Rés-do-chão, na área de arquitectura e construção, esta participou de forma activa em muitos trabalhos de obra”, sublinha Sara Brandão.

O financiamento é, durante o projecto-piloto, feito pela Fundação Calouste Gulbenkian, no âmbito do concurso FAZ - Ideias de Origem Portuguesa. Contudo, a equipa pretende desenvolver um financiamento auto-sustentável, em que as receitas se vão gerir, não só, a partir da realização de actividades, como eventos e workshops, mas também a partir das margens de arrendamento e de “alternativas de sustentabilidade em estudo, que têm vindo a ser acompanhadas pelos economistas do Instituto de Empreendedorismo Social".

A longo prazo, a equipa quer migrar a outras zonas metropolitanas do país, tendo já sido contactada pela Câmara Municipal de Braga.

Texto editado por Luís Octávio Costa

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