Fecha-se uma porta, abre-se uma Montra
Vitrina de loja de roupa abandonada é o cenário para exposição de trabalhos de artistas plásticos e visuais
A caminho do Palácio de São Bento, na Calçada da Estrela, este espaço que foi outrora um pronto-a-vestir está agora abandonado entre um café e uma farmácia – os únicos estabelecimentos que ainda se mantêm abertos do lado Norte da rua. O antigo proprietário da loja é anónimo e nem saberá que a montra do seu antigo negócio, que faliu há cerca de dois anos, serve hoje para expor trabalhos plásticos. A loja, essa, continua fechada como ele ou ela a deixou.
Ali mesmo ao lado está a escola Arte Ilimitada, coordenada por Benedita Pestana, a criadora d'A Montra, e que se dedica à formação nas artes plásticas e visuais. A deterioração dos vários negócios numa zona vizinha e tão próxima inspirou a ideia de transformar este espaço abandonado numa pequena galeria de arte.
Para a responsável por esta iniciativa, o encerramento da loja há cerca de dois anos, tão perto da escola que ainda hoje dirige “veio realçar uma situação que já se estava a agudizar há algum tempo” e que provocava “uma sensação de pena”.
Uma sensação que se repete em tantas ruas de Lisboa pelo impacto da crise económica e que a artista quis contemplar com esta acção urbana e artística. “É um tema social e político e acho que não passa despercebido a ninguém”, lamenta. Até porque também se reflecte no “campo das artes”.
A ideia surgiu há cerca de um ano, em conversa com a primeira artista plástica a exibir o seu trabalho n'A Montra, Luísa Cunha, em Novembro do ano passado. Também Catarina Botelho e Mafalda Santos já tiveram as suas peças expostas.
Até Outubro de 2014, mais nomes importantes das artes plásticas vão juntar-se a esta iniciativa e apresentar as suas criações originais e específicas que fazem uma abordagem conceptual ao espaço que ocupam. Para preservar na memória das peças criadas propositadamente para o projecto, a responsável pretende elaborar cadernos individuais, que acompanham cada artista desde o momento da montagem até ao da exposição.
“Alvará”, de Mafalda Santos (na foto ao lado), é o trabalho que se encontra patente no mês de Janeiro, e que trata os temas da burocracia, acumulação e obsolência, com várias pilhas de papel usado que se amontoam em toda a Montra e que representam o acumular de resíduos decorrentes da ocupação dos espaços.