Pedro Almeida, 47 anos, é treinador de Alto Rendimento de Ginástica Artística Masculina, pai de três filhos, e desde 2013 viaja quase todos os dias de bicicleta entre Almada e o Ginásio Clube Português (GCP), na zona das Amoreiras. Tem um horário de trabalho intenso e prolongado, que lhe exige total disponibilidade. Apesar de inicialmente o carro ter sido uma opção, cedo se confrontou com elevados custos de deslocação e de parqueamento, e muito stress pelo tempo perdido nos engarrafamentos ou a estacionar.
Depois de uma curta experiência com os transportes públicos, parcialmente falhada pela pouca frequência dos mesmos após as 21 horas, e perante a iniciativa da mulher de experimentar a opção bicicleta, resolveu também ele fazer o teste. Utiliza uma BTT adaptada para a cidade com guarda-lamas, luzes e pneus de estrada. No inverno, complementa esse equipamento com casaco, calças, luvas e ténis com forro em Gore-Tex, assim como um gorro próprio para além do capacete.
De que formas usas a bicicleta à sexta-feira?
Casa-trabalho em combinação com transportes públicos! Nas férias em percursos fora de estrada.
O que muda na tua vida nas sextas-feiras em que levas a bicicleta contigo?
É um dia extremamente intenso e longo de trabalho, pois normalmente começo os treinos logo às 8h00 da manhã e só regresso a casa por volta das 21h00, com um breve intervalo para almoço.
Existem alguns mitos sobre a utilização da bicicleta que tenhas vencido?
A ideia que vir de Almada, centro, para Lisboa, Largo do Rato, de bicicleta seria impossível: hoje levo no máximo 40 minutos de casa para o trabalho no GCP e 30 minutos no regresso a casa. A ideia que tinha que andar no meio do trânsito na cidade era extremamente perigosa: hoje sinto um civismo e um respeito do automobilista pelo ciclista que não existia há uma década. A legislação aprovada e a ideia que hoje em dia existe no imaginário coletivo, que é “cool” andar de bicicleta, ajudaram muito a cultivar esse respeito. A ideia de que andar de Lisboa de bicicleta, na cidade das 7 colinas, seria demasiado pesado em termos físicos: no meu percurso, Almada – Cacilhas – barco – Cais do Sodré – Santos – Rua de São Bento – Amoreiras e vice-versa, faz-se mesmo muito bem e hoje sinto-me bem melhor em termos físicos! A ideia que se apanha muita chuva: apesar de haver muitos dias de chuva e de apanhar muitas vezes a estrada molhada, as vezes que apanhei chuva ainda se contam pelos dedos de 2 mãos!
O que poderia melhorar nos percursos que realizas?
Neste momento e com o fim dos Ferry Cacilhas/Cais do Sodré, o que mais me preocupa é o número limitado de bicicletas autorizado nos cacilheiros, quatro por viagem, muito pouco mesmo e já é habitual ter que esperar pelo próximo barco. Mais vias específicas para ciclistas, e uma solução que não vislumbramos para as perigosas e escorregadias linhas de eléctrico. O maior drama dos ciclistas e motociclistas em Lisboa!
Um momento em que te sentes mesmo bem a andar de bicicleta.
Na fase final da subida de São Bento e no chegar ao GCP, pelo esforço físico moderado, mas que se sente e os regressos a casa no verão junto ao rio na zona de Cacilhas onde se assiste a um por do sol fantástico!
Uma pessoa da praça pública que gostarias de ver a andar de bicicleta, e porquê.
O Presidente da CML, António Costa, para que o ajudasse a perder uns quilitos e lhe despertar o interesse para este excelente meio de transporte usado em boa parte da Europa, que a par dos transportes públicos me parecem ser as únicas soluções que temos para as cidades do futuro.
O que tens a dizer a quem diz que andar de bicicleta na tua cidade é impossível?
Para certos percursos recomendo uma elétrica, pois nas experiências iniciais que tive a experienciar a bicicleta em Lisboa, aluguei uma E-Bike e deu-me uma sensação de liberdade fantástica ao subir a Rua do Alecrim, e outros percursos que não me atrevia a fazer sem esse apoio, enfim, a E-Bike parece que foi inventada para uma cidade como Lisboa, não sendo necessária para o meu caso.