A Sexta de Bicicleta de Patrícia Pacheco

Patrícia Pacheco usa a bicicleta diariamente, no Porto, e já fez percursos de cicloturismo em vários países. Com 30 anos, a investigadora colabora ainda com o Banco de Bicicletas

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Patrícia Pacheco é investigadora social e desloca-se de bicicleta na cidade do Porto. Conta já com vários percursos de cicloturismo no Japão, na Índia, e desde Barcelona até Santiago de Compostela, tendo também percorrido praticamente toda a costa portuguesa sobre duas rodas. Envolve-se, ainda, em projectos associados ao empreendedorismo social e colabora com o Banco de Bicicletas (BB). Para Patrícia, de 30 anos, todos os dias são Sexta de Bicicleta.

O que te levou a começar a usar a bicicleta para te deslocares?

A liberdade, a rapidez, o respeito pelo ambiente e a sustentabilidade mundial e por um mundo mais pacífico e integrador. Existem sete mil milhões de pessoas no mundo, logo, é simplesmente insustentável que todas tenham carro, com todos os problemas que isso traz ao mundo e particularmente às cidades, como poluição com excesso de emissões de CO2, poluição sonora, trânsito, acidentes rodoviários, que são a primeira causa de morte em Portugal (mais do que os cancros), o stress e a agressividade que eles desencadeiam nas pessoas, etc. Por isso, depois de uma viagem ao Oriente em 2011, tomei a decisão de ser uma daquelas pessoas a contrabalançar e a usar a bicicleta — meio que considero mais pacífico e integrador social.

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De que formas usas a bicicleta à sexta-feira?

Para mim, todos os dias são sexta-feira. Desloco-me para o trabalho todos os dias de bicicleta, vou às compras com ela, vou divertir-me e visitar amigos com ela, faço desporto e descontraio-me à noite e viajo com a bicicleta.

Quando te inscreveste no Sexta de Bicicleta?

Quando conheci a iniciativa já estava a colaborar com o BB e pensei que era uma boa iniciativa para trazer maior consciência sobre pequenas mudanças nos hábitos de mobilidade urbana.

Como te deslocavas antes?

De todas as formas que as circunstâncias de vida me permitiam: a pé, se o destino era perto de casa; para a faculdade, de carro ou de metro; para o centro de saúde onde trabalhei, de metro; para o Hospital de S. António, onde estagiei, de bicicleta; em Benguela, em missão, quase sempre de carro. Mas agora que organizei a minha vida num raio razoável, vou a todo o lado de bicicleta.

Que tipo de bicicleta ou equipamento utilizas?

Comecei com uma bicicleta de montanha de supermercado, desde criança. Depois de tomar a decisão de usar sempre a bicicleta, decidi que era benéfico adquirir uma mais confortável, segura e que me permitisse viajar, uma "trekking". Agora ando com uma bicicleta que eu e Leandro Carvalho recuperámos, estilo montanha, e tenho outra para aventuras mais distantes. Experimentei distâncias maiores com o tandem do BB (bicicleta de dois lugares) e adorei a experiência, pela liberdade de quem vai atrás, rapidez e proximidade para conversar com quem vai na frente. Um dia adquiro um.

Existem alguns mitos (sobre a utilização da bicicleta) que tenhas vencido?

Sim, mitos relacionados com a capacidade física. Quando era mais nova, achava que não seria capaz de fazer grandes subidas, como a Avenida da Boavista ou D. Pedro V, mas depois percebi que era uma questão de prática e a qualidade da bicicleta pode também facilitar. Achava que não era capaz de fazer mais de 30 quilómetros por dia, até que numa primeira peregrinação de bicicleta fiz 60 e 70 e numa segunda fizemos uma média de 100 quilómetros em 14 dias. Por isso, tudo é possível de ser ultrapassado, mesmo a chuva e o vento de frente.

O que poderia melhorar nos percursos que realizas?

Gostaria de ter vias mais largas, com menos buracos, idealmente com ciclovias ao lado das estradas. Mas acima de tudo mais do que as condições físicas, penso que seja mais benéfica a mudança de atitude de todos os que partilham a via pública: sermos todos mais comunicativos, pacientes e amáveis, respeitando distâncias e velocidades de segurança. Da minha experiência, vejo que a maioria das pessoas são compreensivas e amáveis, ainda que haja sempre um “estorninho” nas ruas. No Porto, senti diferenças positivas com a mudança da lei, talvez porque se falou mais sobre a presença da bicicleta e isso trouxe mais consciência aos condutores.

Um momento em que te sentes mesmo bem a andar de bicicleta.

Quase todos, mas mais de noite quando não faz frio, nem vento, a marginal é linda e acalma. Mas também adoro pedalar durante o dia com o sol a bater na pele por entre a vegetação ou em direcção às praias.

Uma pessoa da praça pública que gostarias de ver a utilizar a bicicleta e porquê?

Sentiria um orgulho ainda maior do país onde nasci se visse pessoas de órgãos decisórios, políticos, a experimentar a liberdade da bicicleta, talvez estimulasse o pensamento livre e fora da caixa, como acontece nos países nórdicos. Penso também que seria obrigatório que os urbanistas, que desenham e projectam as cidades, experimentassem o que é utilizar a bicicleta, mas também andar a pé, de cadeira de rodas ou de transportes públicos, mas não vale fazê-lo com câmaras, jornalistas e seguranças à volta, mas sim como qualquer pessoa, durante pelo menos um mês.

O que tens a dizer a quem diz que andar de bicicleta na sua cidade é impossível?

Genericamente, tenho dito que se eu consigo, toda a gente consegue, mas começo achar que não é bom argumento. Agora só digo: “experimenta ir passear e depois com o hábito e o treino acabas por ver que és muito mais forte do que imaginavas e que tudo é possível”.

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