Ao mesmo tempo que a Selecção Nacional Sénior de Sevens jogava desastradamente no Torneio de Londres - Pedro Leal, o capitão, sentiu-se envergonhado com a prestação conseguida como frisou ao jornal A Bola no Jamor -, no Campeonato da Europa, a selecção Sub-19 ganhava jogos, subia ao pódio com a conquista do 3.º lugar e mostrava a possibilidade de um futuro mais risonho.
Não é que tudo tivesse sido exemplar - há ainda muito para construir e desenvolver. Mas já se vê uma base que pode sustentar um crescimento.
Os princípios do ataque estão, praticamente, assimilados: avançar, atacar a linha de vantagem e verticalizar o jogo. O objectivo de marcar pontos a cada posse de bola parece também fazer a sua escola. O que se saúda.
Em defesa as coisas não correram tão bem nem com tanta fluidez, embora haja placadores capazes. Mas alguns dos princípios da defesa ainda não fazem parte do léxico colectivo dos jogadores, havendo pouca comunicação e não sendo a movimentação de cada um a mais adequada à situação. Existe, de facto, um diferencial substancial entre as capacidades de tomada de decisão ofensivas e defensivas.
A defesa colectiva, a sua organização, articulação e sincronia não são coisas fáceis ou meramente intuitivas, necessitam de treino e a coragem física não é suficiente. Bob Dwyer, o treinador australiano campeão mundial, avisa que “com certeza que placar é vital mas também é vital saber a quem devemos placar”. E para atingir esse patamar é necessário experiência que só se ganha em competições de bom nível e equilíbrio. E essa experiência, como se viu no jogo com a França, é ainda reduzida na grande maioria dos nossos Sub-19.
Aliás este jogo da meia-final com os franceses permitiu verificar a existência de um atraso na formação dos nossos jogadores. Ao ver o jogo e a “distância” entre as duas equipas, pode-se dizer que existe uma diferença de dois anos de formação entre ambas. Ou talvez e dito de outra maneira: um ano de atraso na formação do ataque e dois anos na formação defensiva. Ou seja, contra os franceses os portugueses apresentaram, a atacar, uma equipa de Sub-18 e a defender uma de Sub-17. Daí as dificuldades e a demonstração de incapacidade na conquista e uso da bola.
Este atraso tem, naturalmente, a ver com a formação, com os seus erros metodológicos e com a falta de competitividade desportiva adequada ao crescimento etário no seu percurso de jogadores. Umas vezes, o ganhar a todo o custo, outras, uma confusão entre desporto e lazer, outras ainda, uma má transmissão do conceito do jogo, fazem a realidade que provoca estes atrasos no conhecimento táctico e técnico dos jogadores.
Havendo no mundo em geral e na Europa em particular um enorme desenvolvimento na formação de jogadores, Portugal, para não ser totalmente ultrapassado tem que alterar o seu caminho e adaptar-se ao que os seus adversários estão a desenvolver.
No caso particular do râguebi, a formação deve desenvolver-se na aplicação dos princípios fundamentais e na excelência da rapidez e precisão dos gestos técnicos de base que estabelecem a diferença. Se o não fizermos em tempo e adequadamente, com as deficiências reconhecidas do nosso sistema escolar e desportivo competitivo, veremos passar os comboios sem paragem no nosso apeadeiro.
[curiosidade interessante: cinco dos doze jogadores da selecção de sevens Sub-19 que jogou o Campeonato da Europa estão inscritos pelo CDUP. Se a estes juntarmos os outros que em anos recentes, quer em XV, quer em Sevens, têm atingido a internacionalização, existe óbvia evidência que algo de bom tem estado a acontecer na formação dos jogadores cdupistas. O que só é bom para o desenvolvimento do râguebi português.]