De acordo com as Leis do Jogo (Lei 15) só existe placagem se o portador da bola for agarrado e levado ao chão - altura em deve ser libertado pelo placador, tendo também - ambos imediatamente como também dizem as Leis do Jogo - que libertar a bola, só podendo voltar a jogá-la com as mãos ou pés, quando estiver em pé.
Placar é, tacticamente, uma acção que pretende, antes do mais, parar o movimento do adversário e criar condições para que a bola seja recuperada. O que exige uma capacidade individual a que se tem que acrescentar um movimento colectivo de apoio que possibilite a exploração do sucesso conseguido.
Depois de ter agarrado o portador da bola, a equipa atacante pode evitar a placagem não o deixando ir ao chão, mantendo-o de pé e criando um "maul" - o que desde logo impede o derrube do portador, tornando a placagem impossível - para o que é necessário que um companheiro do portador da bola se ligue a ele. Sendo uma vantagem - o portador não é derrubado e por isso não é obrigado a largar a bola e, havendo destreza suficiente, o movimento pode continuar com a rapidez necessária para que a defesa não se possa organizar - pode também significar uma entrega de bola ao adversário, por formação ordenada, porque se deixaram bloquear, sem avanços ou recuos e com indisponibilidade da bola, por defensores.
A placagem não é, portanto, um acidente do jogo: é uma essência do jogo.
Não é possível jogar râguebi sem haver placagem, sem haver jogadores - todos eles, naturalmente - que sejam capazes de placar.
Quando jogava ou treinava equipas considerávamos - e dizia-mo-lo uns para os outros - que "a diferença entre o râguebi e a pesca é a placagem. Se não sabes placar, dedica-te à pesca!". E a brincar lá se ia afirmando a importância que a placagem tem e deve ter neste combate colectivo que é o jogo de râguebi.
Para placar é, antes do mais, preciso coragem: não é fácil ter a disponibilidade mental para meter o corpo à frente de um matulão que vem lançado com a bola nas mãos. Depois é preciso técnica: enquadrar, colocando-o no nosso carril, o adversário e colocar os apoios tão próximo quanto possível dos seus para poder "armar as coxas"; avançar com o equilíbrio necessário para entrar com o ombro nas partes moles do corpo do adversário, apertar os braços, não o deixando fugir e fazendo-o cair para se levantar primeiro com a preocupação de recuperar a bola e iniciar o contra-ataque. Qualquer destas duas componentes - a táctica e a técnica - é treinável.
Para placar é preciso manter uma atitude de combate, uma atitude guerreira de antes quebrar que torcer. Placa-se, atacando o portador da bola - a espera não é mais do que o primeiro passo para perder o impacto. E para placar é preciso não ter dúvidas sobre o momento de o poder fazer: o que exige colaboração dos companheiros, sentido posicional e espírito de equipa - não o deixo passar, por mim e pelos meus! Também aqui, embora seja das acções do jogo que mais necessita do "eu", o "nós" prevalece. É verdade, uma boa placagem é muitas vezes possível por que o colectivo o proporcionou.
Infelizmente os jogadores portugueses não se têm mostrado exímios nesta tarefa do jogo. Placa-se pouco e mal no campeonato interno e o salto para a cena internacional mostra-se fatal. Nos recentes jogos internacionais de quinze e de sete a inépcia placadora - a etapa de Glasgow foi confrangedora - tem sido uma evidência: e por isso perdemos jogos ganhos e por isso perdemos jogos por resultados excessivos.
Para que este gesto técnico se possa fazer em segurança é necessário, desde o início da formação dos jogadores, ensinar-lhes capazmente a técnica de forma a que a confiança cresça e o papel de placador possa ser desempenhado em qualquer circunstância que o jogo imponha.
O râguebi português precisa - pela evidência dos nossos jogos internacionais - de rever os métodos de ensino da placagem sob pena de para nada servirem as outras capacidades que conseguimos demonstrar. Porque, sem placagens não há resultados internacionais de qualidade.
Espero que os nossos internacionais - seniores e Sub-19 - dêem, neste fim-de-semana, o exemplo de que as capacidades de placagem dos portugueses já demonstradas em épocas não muito longínquas, podem ser reencontradas.