A Sexta de Bicicleta de Valéria Machado

Valéria é arquitecta, tem três filhos e mora num dos pontos mais altos de Lisboa. O seu meio de transporte é a bicicleta

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Valéria é uma arquitecta de 49 anos, mãe de três filhos. Reside num dos pontos mais altos da cidade de Lisboa, e trabalha no centro, numa das zonas com mais densidade de trânsito. Mas isso não a demoveu de adoptar a bicicleta como principal meio de transporte. Só em Março se inscreveu no Sexta de Bicicleta mas já rola por Lisboa há cerca de cinco anos. Inicialmente, usava roupa mais desportiva, mesmo para ir para o escritório mas, a pouco e pouco, foi-se habituando à roupa do dia-a-dia.

O que te levou a começares a usar a bicicleta para te deslocares?

Gosto de fazer desporto e há cinco anos fiz uma lesão no calcanhar, o que me levou a estar parada alguns meses. Descobri que a lesão não me impedia de pedalar. Então, comprei uma bicicleta e comecei a andar por aí, com o objectivo de compensar os meses de descanso forçado.

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De que forma usas a bicicleta à sexta-feira?

Essencialmente uso-a para me deslocar de casa para o trabalho e para dar as voltas pela cidade que eventualmente tenha para fazer nesse dia.

Como te deslocavas antes?

A maior parte das vezes, de carro.

Que tipo de bicicleta ou equipamento?

Tenho uma bicicleta urbana, feminina. Uso sempre o capacete e, se for à noite, uso luzes e uma faixa fluorescente no corpo. Também faço questão de ter um seguro de responsabilidade civil. Não é um carro, mas é o meu meio de transporte de todos os dias. Há que se acautelar.

O que muda na tua vida nas sextas-feiras em que levas a bicicleta contigo?

Não muda muito, porque na verdade uso a bicicleta todos os dias da semana. Mas não há dúvida de que sexta é aquele dia mais descontraído, em que nem sempre ao fim do dia volto directa para casa. E nisso a bicicleta dá-me completa liberdade para ir passear onde quiser sem me preocupar com o trânsito ou o estacionamento.

Existem alguns mitos (sobre a utilização da bicicleta) que tenhas vencido?

O mito das subidas, sem dúvida. E o de que andar de bicicleta pela cidade é perigoso. Sobre as subidas, confesso que fiquei um bocado receosa, no início. Afinal, Lisboa é a cidade das sete colinas. Depois, com o tempo, aprendi que de bicicleta o caminho directo nem sempre é o melhor, ou seja, há (quase) sempre maneiras de se contornar as inclinações ou de apanhar umas mais suaves. E, em último recurso, não estamos numa competição. Portanto, desmontar e subir a empurrar é também opção. Sobre a falta de segurança, cheguei à conclusão de que, se respeitarmos os automobilistas, eles também nos respeitam. Há espaço para todos na estrada, e, sinceramente, não tenho razões de queixa.

 

O que poderia melhorar nos percursos que realizas?

Apesar dos esforços por parte das autarquias com o objetivo de melhorar a vida do ciclista e incentivar o uso da bicicleta, gostaria de ver mais espaços seguros para parquearmos as bicicletas. Gostaria também que construíssem mais quilómetros de ciclovias na cidade, mas enquanto os portugueses não se consciencializarem de que as ciclovias não são para os peões, torna-se mais fácil e menos perigoso circular junto aos carros.

 

 

Um momento em que te sentes mesmo bem a andar de bicicleta.

Sinto-me especialmente bem, quando os carros estão completamente empancados no trânsito, e eu, tranquilamente, sigo o meu caminho. Outro momento em que sinto que fiz a escolha certa ao optar pela bicicleta é, quando, no caminho de volta para casa, passo por dentro do jardim da Estrela. Paro, bebo água, ouço um pouco de jazz, é terapêutico. 

 

 

Uma pessoa da praça pública que gostarias de ver a andar de bicicleta e porquê?

Nenhuma pessoa em especial, e sim todas no geral. Sem dúvida que seria um belo exemplo para a população. 

 

 

O que tens a dizer a quem diz que andar de bicicleta na sua cidade é impossível? 

Que deixe a preguiça de lado e comece. Que os benefícios são tantos, para si e para o planeta, e que além do mais está cientificamente documentado que Terra transmite uma dose extra de felicidade àqueles que pedalam, que não há como não se viciar!

 

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