São bem conhecidos os aspectos e efeitos negativos dos nacionalismos extremistas, especialmente aqueles que deram origem aos conflitos mundiais, e a muitos outros confrontos de ódio étnico e racial por cá (Europa) e pelo mundo fora.
O que é curioso é que a origem dos movimentos nacionalistas em nada se relaciona com sistemas totalitários e de opressão. Era exactamente o contrário disso. Os nacionalismos, de inícios e meados do século XIX, serviram para libertar os povos, proporcionar-lhes autodeterminação e liberdade face a poderes que lhes eram estranhos — poderes políticos que não coincidiam com as nacionalidades, as etnias e outros grupos humanos. Eram, no geral e com as devidas excepções, movimentos libertários, sem conotações com esquerdas ou direitas. No fundo, de um modo simplista, constituíam-se como grupos de luta pela liberdade individual e colectiva. Por outro lado, serviram também para reforçar a estrutura e coerência de determinados Estados, alguns quase “artificiais”, a quem sempre faltou um motivo de união e coesão funcional.
Só mais tarde, em finais de século XIX e início de século XX, se misturou o nacionalismo com imperialismo e expansionismo, resultando em atentados à liberdade de terceiros. Foi a grande arma para Estados militaristas expansionistas, uns totalitaristas e outros até mais liberais, mobilizarem pessoas e bens a uma escala nunca vista e com impactos negativos monstruosos.
A União Europeia (UE) nasceu do pós-2ª Guerra Mundial, numa época de “Guerra Fria” entre blocos e potências. A cooperação foi imperativa por vários motivos. Apesar de tudo, e de consideráveis sucessos, dessa necessidade nunca se conseguiu criar a unidade e coesão exigida para que os europeus mantivessem a importância geopolítica mundial e estilos de vida que tinham construído. Nunca se potenciou e reforçou um nacionalismo da própria Europa, um dito pan-nacionalismo europeu. Isso poderia ter sido feito, com base nos princípios da liberdade e da democracia (ou até noutros da mesma natureza), mas nunca aconteceu. Não podemos esquecer que a democracia foi inventada na europa, tal como o sentido moderno de ciência e até o Estado-Social que retirou da pobreza e provação milhões de europeus.
Hoje a União está em crise, sem o cimento que poderia ser o sentimento de pertença sustentado por um nível superior de nacionalismo, despido dos tiques que no passado conduziram à intolerância e conflito. Por mais diferentes que possamos ser enquanto europeus: há pontos de contacto comuns. Se alguns Estados europeus, apesar de todos os seus regionalismos, se conseguiram erguer como unidades políticas, económicas e sociais fortes, o mesmo será possível para a UE. É tudo uma questão de escalas e níveis de acção e identificação.
Resta saber se há a vontade em levar a UE a um próximo estágio de pertença cívica. Mais que fundos de desenvolvimento e directivas, a UE só terá capacidade de persistir como força activa se existir um sentimento de pertença dos seus cidadãos. Talvez um nacionalismo com base na liberdade, democracia, inovação e responsabilidade comum pode ser a nossa salvação.