Conta o célebre fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado que depois da sua reportagem "Êxodos" (2000), na qual retratou a crua realidade dos imparáveis movimentos migratórios em todo o mundo, tinha perdido toda a esperança no futuro da humanidade. Por coincidências da vida, nessa mesma altura, decidiu abraçar, com a total cumplicidade da sua mulher Lélia Wanick, um projecto de reflorestação e reabilitação de uma antiga propriedade pecuária da família, onde cresceu, no Vale do Rio Doce, no estado de Minas Gerais.
Maravilhado, constatou a incrível capacidade da natureza para se restabelecer. Assistiu ao renascer daquelas terras, que voltaram a parecer-se mais às suas recordações da infância, com a sua vegetação autóctone, com os seus cursos de água, peixes e caimões. Dessa aventura nasceu "Génesis" (CaixaForum de Madrid, até 4 de Maio), o seu último trabalho fotográfico, em que decidiu ir em busca dos lugares mais recônditos do nosso planeta onde a ausência humana prevalece ou onde as marcas da civilização são praticamente inexistentes. Fruto de inúmeras viagens, ao longo de oito anos, é um regresso às origens, ao princípio de tudo.
São imagens de uma poderosa beleza, impregnadas do silêncio dos glaciares da Patagónia, repletas do mistério vítreo do olhar do elefante-marinho da Geórgia do Sul. Desfiles de animais, montanhas ou formações geológicas estranhíssimas, como os tsingy de Madagáscar. Salgado traça a geografia da fragilidade do nosso planeta e parte também ao encontro desse homem inaugural, que vive em total harmonia e em plena convivência com a natureza que o rodeia: os "korowai" da Papua Oriental, os "mursi" da Etiópia ou os "Zo’é" da Amazónia.
As 245 fotografias que compõem Génesis constituem uma declaração de amor ao planeta Terra, mas são acima de tudo um apelo à conservação dos seus confins ainda intactos e um alerta para a necessidade de encontrar um equilíbrio entre homem e natureza. Fica feita a proposta para quem passar por Madrid.