Geórgia, um modelo a seguir?

Internamente, o râguebi georgiano não aparenta ter diferenças em relação a Portugal, mas os resultados da sua selecção são avassaladores quando comparados com a portuguesa

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António Simões dos Santos

As diferenças entre as duas selecções que, no passado sábado, entraram em campo eram, à partida, bastante grandes. A Geórgia está, actualmente, num patamar muito acima das demais selecções do “Seis Nações B”.

É uma equipa com rigor táctico, muita qualidade técnica e com jogadores que, apesar de serem todos profissionais, são, entre as selecções de Leste, aqueles que ainda mantêm um orgulho enorme de jogar pelo seu país.

Como equipa, crescem de jogo para jogo. Em Novembro derrotaram Samoa, oitava no ranking mundial, à frente de selecções como a Argentina, a Escócia e a Itália! E a Geórgia, sem dúvida, estaria apta para ser lançada num torneio ao nível das Seis Nações. Morderia os calcanhares aos clássicos e, com certeza, poderia vencer a Escócia ou Itália.

E tendo em conta esta realidade, que muitos parecem esquecer, a vitória de Portugal ou a luta por essa vitória, até aos minutos finais, seria uma missão praticamente impossível. No entanto, o resultado final foi desolador e espelhou a diferença que, à partida, separava ambas as selecções.

Por isso, o resultado e a exibição da nossa selecção, neste jogo em particular, não deve merecer grandes comentários ou conclusões sobre o caminho percorrido pelo râguebi português. Batemo-nos razoavelmente, a “mêlée” foi aceitável, as “touches” garantidas, houve muitas placagens e a entrega dos jogadores foi, em geral, boa. Até nos podemos queixar, ligeiramente, de algumas decisões do árbitro.

Só que, na verdade, os georgianos controlaram sempre o jogo: excelente jogo ao pé (quer táctico, quer aos postes); seguros a defender; poucas faltas; souberam acelerar quando foi preciso. Quer defensiva, quer ofensivamente, colocaram-nos sempre em pressão.

Um “10” de Portugal de nível mundial - nos corredores muito se reclamou um “10” luso mais rodado -, não seria suficiente para colmatar tanta diferença. Sejamos humildes, todos, para aceitar esta realidade.

E por falar em realidade, esta Geórgia tem um campeonato nacional totalmente amador - contrariamente à Rússia e à Roménia que, a cada ano que passa, parecem estar piores. Esta Geórgia, esta super Geórgia, tem apenas 2866 jogadores masculinos registados. Esta Geórgia não tem uma organização de râguebi melhor do que a nossa…

Internamente, a Geórgia não aparenta diferenças em relação a nós. Contudo, os resultados da sua selecção são avassaladores em relação aos conseguidos pela equipa portuguesa. Então, qual a razão de tão grande diferença quando as selecções se defrontam em campo? A resposta é evidente! E a ida ao Mundial de 2007 poderia ter sido a rampa de lançamento para trabalharmos nesse campo.

Contudo, perdemos energia, recursos, dinheiro em lançar medidas para semi-profissionalizar os jogadores da nossa selecção. Esquecemo-nos ou fomos ineficazes no trabalho nos principais campeonatos profissionais europeus…

Não soubemos criar as condições necessárias para que os nossos melhores jogadores se sentissem aliciados em evoluir nesses campeonatos. Não soubemos, até agora, criar uma boa relação com os clubes desses mesmos campeonatos de modo a garantir, primeiro, que os nossos jogadores pudessem jogar com regularidade e, depois, que os jogadores fossem libertados sempre que realmente necessário.

Perante a evidência entre as semelhanças do râguebi interno português e georgiano, comparadas com as evidentes diferenças de qualidade das respectivas selecções, a Geórgia deveria servir de exemplo a quem analisa e dirige o nosso râguebi.

Ainda estamos a tempo de arredar caminho e corrigir algumas políticas. Os frutos de 2007 ainda prevalecem. Mas não por muito tempo…

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