Ana Pinheiro de Massamá, Sintra, tem 55 anos e está reformada por invalidez. Conquistou a sua autonomia financeira quando tinha 21. Mais cedo do que a filha e o filho. Ela, com 23 anos e ele com 27, estão desempregados e vivem com a mãe. Apesar de terem um elevado grau de formação – licenciatura e mestrado – não conseguem ser independentes.
Ana Garcia Santos é mãe de quatro filhas, entre os 19 e os 24 anos e, ao contrário de Ana Pinheiro, tem razões para estar optimista. A filha mais velha continua a viver com a restante família por opção. “É licenciada em Economia e está a trabalhar como consultora, não tem tempo sequer para arrumar o quarto, quanto mais gerir uma família”, conta Ana Santos.
Esta e outras situações são as duas faces de uma mesma moeda e, embora por razões diferentes, encaixam na perfeição no retrato tirado pela agência Eurofound no relatório apresentado terça-feira sobre a situação social dos jovens na Europa.
O documento revela que, entre 2007 e 2011 (último ano com dados disponíveis), aumentou na Europa o número de jovens (18-29 anos) que continuam a viver em casa dos pais. Portugal até contrariou essa tendência, tendo registado uma diminuição de quatro pontos percentuais.
Filipe Fernandes, quase nos 30 anos, está empregado como assessor da Câmara Municipal de Caminha, apesar de a sua formação superior ser em Arquitectura Paisagista. Ainda não conseguiu deixar a casa dos pais por duas razões: "Financeiramente ainda é complicado viver sozinho, continuo a precisar da ajuda dos meus pais. Por outro lado, ajudo-os a pagar as contas, por isso, eles também precisam de mim. É uma dependência de parte a parte.” Apesar disso está confiante, ou seja, em Portugal, faz parte de uma minoria, segundo os dados do estudo (ver infografia).
Renata Gouveia Martins, 24 anos, de Lisboa, é licenciada em Direito. Diz-se satisfeita por ter conseguido arranjar trabalho na sua área, mas isso não lhe dá margem para deixar a casa dos pais. “É impossível. Trabalho em full time, mas só recebo 300 euros por mês”. Tal como a maioria, segundo o estudo, está pessimista e desconfia dos governos. “Não confio neles, são uns insensíveis, não têm noção na realidade." Também tem dificuldade em lidar com promessas que não se cumprem no local de trabalho. “Entreguei a minha tese de mestrado o mês passado e nada mudou. Prometeram-me uma coisa no início e depois não foi bem assim”, lamenta.
Marta Mateus vive em Odivelas e, com 26 anos, trabalha em part time como educadora social. Os 530 euros que recebe por mês não chegam para uma vida autónoma. “A maior parte dos meus amigos ainda nem sequer conseguiu o primeiro emprego. Já me disseram para ir para fora, mas isso é muito triste. Quero trabalhar no meu país e contribuir para o meu Estado.”
As expectativas goradas, o investimento sem retorno e a falta de oportunidades são razões que justificam, sem surpresa, os dados que apontam Portugal como o segundo país onde há mais jovens pessimistas em relação ao futuro.
Ana Pinheiro não vê alternativa à emigração. “Eles estão a pensar nisso seriamente e eu, como mãe, também os incentivo a irem e a lutarem pelos sonhos deles.”