Cerca de metade dos jovens europeus não consegue deixar a casa dos pais

Quase metade dos europeus até aos 30 anos ainda vive com a família. Em Portugal, o número atinge 55%, apesar da descida apontada por um relatório europeu apresentado nesta terça-feira.

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Na maioria dos Estados-membros na UE, há mais jovens a viverem com os pais agora do que em 2007, ano a que se reportava a anterior publicação da European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions (Eurofound), a instituição que apresentou o estudo. Em cinco anos – os dados recolhidos dizem respeito a 2011 –, o número de jovens dos 18 aos 29 anos a viverem com os pais cresceu de uma média de 44% para 48%, nos 28 países da União Europeia (UE).

Portugal está acima da média europeia e é um dos que apresentam valores mais altos (12.º). No entanto, os jovens portugueses pertencem a um grupo de 11 países em que se registou uma diminuição (59% para 55%), o que poderá estar relacionado com o aumento da emigração jovem. “É o que terá acontecido na Irlanda, que também foi afectada pela crise de forma particular, e pode ser parte da explicação” no caso português, afirma Anna Ludwinek, uma das autoras do estudo, em declarações ao PÚBLICO.

O sociólogo da Universidade de Coimbra Elísio Estanque frisa que a tendência já vinha sendo notada há alguns anos e atribui responsabilidades a um conjunto de “pontas soltas que vão contribuir para o mesmo efeito”. Por um lado, os jovens têm dificuldade em encontrar uma saída profissional e há uma tendência a protelar a autonomia, e, mesmo os que conseguem trabalho, têm empregos precários e com poucas garantias de futuro. A isto junta-se a dificuldade crescente de acesso a crédito, que impede a compra de casa própria, mesmo para quem podia ter algumas condições para fazê-lo.

Por seu turno, a investigadora da Universidade do Minho e especialista em questões de trabalho Ana Paula Marques relaciona estes resultados com outra tendência observada pelo mesmo relatório: um aumento do número de jovens expostos a situações de carência económica extrema. Vivendo em agregados familiares mais alargados, os jovens estão mais próximos de situações de desemprego, por exemplo. A especialista não tem dúvidas de que esta é uma realidade “decorrente do contexto da crise”.

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Manter a casa quente, comprar carne ou peixe ou comprar roupas novas são luxos para quase 40% dos jovens portugueses, segundo este relatório. Portugal é o quarto país da União Europeia onde a proporção de jovens que vivem em situações de carência extrema é mais alta, um valor bem acima da média europeia (22%). O indicador registou um crescimento de 17 pontos percentuais desde o último relatório. Em piores condições do que os jovens portugueses, só os de Hungria, Bulgária (50% passam por este tipo de dificuldades em ambos os países) e Chipre (40%).

De resto, é entre os países do Sul que estão os maiores aumentos de situações graves de privação. Mas o aumento é generalizado a praticamente todos os países, com crescimentos muito significativos na Suécia (de 1% para 6% dos jovens nesta situação) e na Holanda (de 3% para 8%), por exemplo, aponta Anna Ludwinek. “O aumento das situações de carência extrema é um dos resultados mais preocupantes”, sublinha.

O relatório foi publicado pelo Eurofound, uma agência da União Europeia criada em 1975, e baseia-se em 45 mil entrevistas realizadas durante o ano de 2011. Em Portugal, foram entrevistadas 1013 pessoas.

De acordo com o documento, os jovens portugueses são dos mais desconfiados em relação às instituições, em particular o Governo. A confiança interpessoal também baixou em Portugal no mesmo período e o país é hoje o sétimo da Europa em que os jovens menos confiam nas pessoas. Outro indicador em queda é o optimismo quanto ao futuro, que em Portugal desceu de perto de 60 pontos (em 100) para baixo dos 40, ficando apenas aquém dos níveis de pessimismo registados noutro país sob intervenção externa de uma troika de credores, a Grécia.

Para Anna Ludwinek, estes são dados que mostram que a Europa precisa de mudar o foco do debate sobre os jovens: “Não podemos centrar-nos no desemprego jovem, mas tem de se ter uma visão mais alargada, para levar em conta outros aspectos sociais com impacto na vida dos jovens”.

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