De presumível assassino de uma estrela radiofónica (cujo cadáver jamais foi encontrado) à infundada acusação de ser portador de uma sintomatologia “viral”, é hoje inegável que o vídeo musical não apenas sobreviveu à mudança da MTV da televisão musical para os espectáculos da (denominada) “vida real”, como se tornou no género audiovisual mais popular da Web. Para além de ter sido um ano fundamental para sua legitimação, 2013 veio também confirmar quatro tendências mais ou menos recentes do formato.
A primeira delas é a hegemonia dos vídeos musicais textuais (ou "lyric music videos"). Não apenas este género videomusical permite cumprir uma das funções outrora quase exclusivamente levadas a cabo pelos "inlays" dos suportes físicos musicais (a disponibilização da letra do tema), como a sua produção é relativamente rápida e económica. Alguns destes vídeos são, de resto, pequenos prodígios de design gráfico e de tipografia cinética dignas do legado de criadores como Saul Bass e Kyle Cooper.
A segunda tendência é a interactividade. Apesar de as primeiras experiências remontarem a 2007, foi apenas no ano passado que começaram a surgir os primeiros vídeos musicais interactivos genuinamente inovadores e capazes de proporcionar aos utilizadores uma experiência lúdica comparável à dos videojogos. Do ponto de vista da produção, os vídeos musicais interactivos estão nos antípodas dos vídeos musicais textuais, o que explicará, em parte, o facto de ser ainda um género relativamente bissexto. Mas tudo poderá mudar muito brevemente.
As séries videomusicais terão sido a tendência que conseguiu o maior protagonismo mediático, sobretudo devido ao inesperado "visual album" lançado pela Beyoncé no final do ano. No entanto, é possível identificar os primórdios desta tendência nos "video albums" outrora comercializados em cassetes VHS (o primeiro remonta mesmo a 1979, ano em David Mallet realizou um “teledisco” para cada uma das canções de "Eat To The Beat" dos Blondie). Se na era da televisão musical, as séries videomusicais eram vistas como excentricidades ao alcance da bolsa de muitas poucas bandas, 2013 veio provar que até um projecto musical sem contrato discográfico pode produzir e disponibilizar com elevado sucesso no YouTube um duplo videomusical do seu mais recente disco.
Finalmente, a derradeira tendência videomusical a impor-se em 2013 está relacionada com o facto de apenas uma ínfima parte dos vídeos musicais produzidos no ano passado serem “oficiais”, sendo a esmagadora maioria fruto da criatividade vernacular de fãs ou meros utilizadores da Web. Na verdade, mesmo os vídeos musicais “oficiais” já se deixaram contagiar por esta estética não apenas porque certos projectos musicais (como os Death Grips ou a Batida) perpetuam a ideologia do DIY, mas também porque é cada vez maior o número de editoras que não hesita em recorrer ao talento de comunidades virtuais como as que gravitam em torno de portais como o Genero e o Radar Music Video.
