A arquitectura em 2015 não será muito diferente do que é hoje, porque ainda que o mundo corra e as pessoas tendam a viver cada vez mais do imediato a arquitectura, tal como a natureza, precisa de tempo.
De facto, o tempo é um dos mais belos agentes no que diz respeito à arte de projectar e tem-se perdido no marasmo da burocracia e da suposta evolução. Os gabinetes de arquitectura têm ritmos cada vez mais galopantes ainda que no final de contas o objectivo seja lugar nenhum.
Nos tempos que correm, constrói-se cada vez menos e, em detrimento disso, existem inúmeros concursos para todos os gostos e feitios. São rampas de lançamento, mas no fundo a oportunidade deveras vantajosa é para aqueles que podem escolher entre centenas de projectos e pagar apenas um. Afinal, ninguém entra num restaurante e come todos os pratos e no final paga apenas o que mais lhe convém. Seria belo que este panorama se alterasse em dois anos, embora o número crescente de arquitectos portugueses aponte em sentido contrário.
Com o número de arquitectos a aumentar e as obras a diminuir, não é só normal que os gabinetes procurem esses meios de subsistência é também expectável que a qualidade dos projectos decaia. Porque infelizmente para nós, uma grande parte da sociedade ainda não faz ideia do que fazemos, para que servimos e porque devemos ser pagos.
Porém, estas são apenas hipóteses num vasto leque de possibilidades, a única certeza sobre a arquitectura em 2015 é que ela será o reflexo do que fizermos hoje e todos os dias. Se perdermos alguns vícios, talvez no centro dela volte a estar o Homem ao invés do ego do seu criador como acontece hoje tão frequentemente. Quem sabe os arquitectos voltem aos tempos do pensamento e do diálogo sem espaço para desfiles de vaidade e projectos megalómanos. Ainda que tal não aconteça é bom pensar que pode ser assim. Embora o caminho seja longo, é bom pensar que os projectos de reabilitação, reconversão, repovoamento vão ganhar cada vez mais força porque existem muitos edifícios vazios, fechados, abandonados, empedernidos na sombra que exalam ainda luz.
Assim, resta desejar que o arquitecto que se encontra todos os dias entre dois fogos opte por ser o agente criativo em detrimento do homem de negócios, tal como referiu Alvar Aalto. Porque o mundo precisa urgentemente de se tornar mais habitável e humano. E não conheço melhor forma para começar que pela arquitectura.