Hoje, 22 de Setembro de 2015, o país acordou em brasa. Depois do espancamento da famosa rapper do Porto que se celebrizou pelas melodias e letras contra a troika, uma onda de medo alastrou por todo o lado. Não bastava já o horário condicionado dos transportes públicos, imposto após a 5ª avaliação do 2º resgate, que obriga autocarros, metropolitano e comboios a funcionar apenas entre as 8 e as 18 horas, de modo a permitir estritamente a mobilidade de e para o emprego; não bastava o apagão da eletricidade pública nas ruas e avenidas a partir das 21 horas; não bastava o fecho dos cinemas nos centros comerciais, vandalizados por propagarem «vícios morais»; não bastava o IVA a 30% na restauração, que fechou cafés e bares, agora são as próprias pessoas que se trancam em casa com receio das ações «espontâneas» das milícias populares que procuram, noite fora, arrumadores, artistas, prostitutas, toxicodependentes, homossexuais, ciganos, intelectuais, esquerdistas, professores, beneficiários do rendimento social de inserção e sem-abrigo, para os prenderem, torturarem e cravarem uma tatuagem na testa com a inscrição “sem lugar”, o que resultou já na morte de 33 pessoas um pouco por todo o país, perante a indiferença generalizada da polícia, que se resguarda na falta de combustível para os automóveis de modo a justificar a sua inércia, embora fontes não identificadas insistam que são elementos dos corpos da ordem que organizam as ditas brigadas.
A cidade parece sujeita a um recolher obrigatório. No horizonte das ruas e praças ouve-se madrugada fora o latir desesperado dos cães e o ritmo compassado, quase marcial, das botas de tropa das milícias. Na televisão, o Primeiro-Ministro Marco António Costa insiste em dizer “que Portugal não é a Grécia” e prometeu a contratação de urgente de 500 novos elementos para o novo “corpo cirúrgico de intervenção urbana”, o qual será dotado das melhores tecnologias antimotim disponíveis no mercado mundial de armamento.
Notícia de última hora espalhada nas redes sociais (uma vez que vigora, nos media, o “decreto extraordinário de contenção” que impede a divulgação de ocorrências “antissociais”), alerta para uma enorme manifestação em frente ao hospital de Santo António, onde a rapper luta contra a morte. Milhares de cartazes escritos à mão reproduzem alguns dos seus versos: “eles têm medo de que não tenhamos medo” parece ser a escolha mais repetida. Dos Aliados à Galiza, uma imensa maré cresce a cada hora que passa.
Alguns posts e blogues começam a falar da “revolução da geração P3”… (continua)