Velhos hábitos em Casanova

Em pleno Verão, a vizinhança do Tejo é um apelo irresistível. E eu não fui de modos, agarrei na Guadalupe e com um casal amigo fomos até uma das mais famosas pizzarias da cidade

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Pedro Soenen

Em pleno Verão, a vizinhança do Tejo é um apelo irresistível. E eu não fui de modos, agarrei na Guadalupe e com um casal amigo fomos até uma das mais famosas pizzarias da cidade, o Casanova.

O acesso de automóvel implica normalmente o pagamento de parking, pelo que se pode optar pelo metro, mesmo à porta. Chegámos cedo para almoçar, pois não há reserva que nos valha. A rampa já mítica do restaurante recebeu-nos em todo o seu esplendor e sem fila, o que eu agradeci. Mas depois, o dilema! O casal amigo, fumador, tinha preferência pela esplanada, podendo assim fumar um cigarrinho entre pratos. Verdade seja dita, eu também preferia usufruir da vista para o rio ou mesmo sobre as janelinhas dos grandes paquetes de cruzeiro que por ali estacionam, mas as escadinhas até à esplanada dão-me logo uma "facadinha" nas costas. Além disso, as esplanadas deixaram de ser uma alternativa tão natural como eram, pois os fumadores, no seu direito, não se inibem de o exercer sem cuidarem de que lado o vento vem... acabando muitas vezes por pairarem verdadeiras nuvens de fumo sobre a cabecinha da Lupe. São estes momentos que nos fazem perceber que o mundo está realmente "dividido" entre quem tem filhos e quem não os tem.

Ficámos na esplanada sob a condição de não se fumar durante a refeição e com alguma ajuda extra lá descemos com o carrinho de bebé. A visão daquele imenso caudal, que até recentemente pouco conseguíamos apreciar, sentindo a brisa na face e, nas horas de mais calor, os borrifos de água com que o restaurante nos presenteia, deixa-nos convencidos que Lisboa pode mesmo ser a quarta cidade mais bela — e agradável — do mundo!

A ementa, não obstante ser maioritariamente de pizzas, é variada q.b. e não esquece os vegetarianos nem os mais pequenos, com um pratinho de massa e fiambre. Desta vez, arrisquei na pizza Trentina (Carne Salata del Trentino), uma pizza que segundo o restaurante ‘Há quando houver’. Tive sorte… havia! E era deliciosa, muito simples e suave. A rivalizar na qualidade da pizza com as casas dos bairros tradicionais de Roma, o restaurante cumpriu: comeu-se bem e bebeu-se ainda melhor! "Cremolati" de fruta cai bem em qualquer altura do ano, e no Verão então, cai na perfeição. Para terminar, uma "panna cotta" de frutos vermelhos, divinalmente leve.

Na hora da troca de fralda e já habituada à escassez de fraldários, questionei um empregado sobre o assunto, e confirmou-se a sua ausência, embora ele se tenha disponibilizado de imediato para subirmos até ao escritório, se fosse realmente necessário. Estávamos quase de saída, por isso o rabinho molhado assim permaneceu.

A experiência revelou-se muito agradável, com um excelente serviço e extrema simpatia, embora para a próxima fiquemos pelo interior. Para além de não haver fumadores, tem umas lâmpadas vermelhuscas sobre as nossas cabeças que, quando as ligamos, EUREKA!, aparece o empregado! Quando as conseguir alcançar com a sua mãozinha, o Casanova irá fazer as delícias da Guadalupe — literalmente.

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