José Cabaço, o presente do Insta será o futuro da Nike
A placa à porta do escritório de José Cabaço no CODE, na Nike, em Portland, diz que ele é Global Concept Creative Director. O Instagram de @josecabaco diz que ele é o instagramer mais rápido do Oeste
Todos nós conhecemos José Cabaço sem realmente o conhecermos. No limite, todos vimos várias vezes o filme "The Other Game", uma das mil e uma campanhas publicitárias com a assinatura do criativo com um currículo maior do que um layout do P3. A placa à porta do seu escritório no CODE (Center of Design Excellence) diz que ele é Global Concept Creative Director na Nike, em Portland, onde a marca desportiva nasceu. Trocamos por miúdos? Ele é pago para imaginar as histórias que envolvem os produtos com a etiqueta Nike.
Ele vai para fora cá dentro. Ele sabe aceitar um bom frango com humildade. Ele joga bonito. Ele falou pelo dariz (campanha do vaporizador Nasex, lembram-se?) e hoje está a inventar conceitos que a Nike apresentará no Outono/Inverno de 2015.
Muitos conhecem-no como @josecabaco, o instagramer mais rápido do Oeste, o utilizador com síntomas de transtorno obsessivo-compulsivo não identificado. José Cabaço, que repete compulsivamente a palavra "compulsivamente", pode fazer "três ou vinte posts por dia" no Instagram, o seu mais recente, mais recheado e menos secreto bloco de apontamentos. Já algum insta inspirou uma campanha? "Já várias fotos foram inclusivamente usadas em campanhas, tal é a sua definição", respondeu ao P3.
"Há muitos anos que desenho compulsivamente. Registo tudo o que me passa pela cabeça, briefings, coisas relevantes ou não para o trabalho. Desde os dez anos que os meus pais guardam os meus desenhos. E eu faço o mesmo com os meus blocos de ideias, coisas do momento", sublinha José, que não tem "muita paciência para o Facebook". "E para o Twitter, rede social que se diluiu rapidamente".
Com o Instagram, confessa, "as coisas mudaram". Ficou bem preso nesta rede. "Foi a primeira vez que a minha fotografia, que tantas campanhas da Nike alimentou, ficou mais visível. Nunca fui pago para fotografar, mas as minhas câmaras vão sempre comigo às sessões de fotografia, seja com fotógrafos mais ou menos famosos ou com atletas mais ou menos famosos".
Aqui encontramos a matéria prima à saída da mina — muito antes do toque de Midas de jogadores como Cristiano Ronaldo e Wayne Rooney, Nadal e Federer, Kobe Bryant e Tiger Woods. "Composições e abstracções, sombras, layouts, padrões, coisas esquisitas, distorções da realidade e texturas do planeta à minha volta", descreve — compulsivamente. "Às vezes é preciso esperar cerca de um mês para ver uma pessoa numa foto". Confirmamos.
Entre a foto (com a câmara nativa do iPhone) e a publicação (após uma utilização básica na app VSCO CAM), o processo "não pode demorar mais de três minutos". "Talvez seja a primeira app que me obriga a tomar uma decisão criativa. O Instagram passou a ser a forma de me manter em contacto com o consumidor em tempo real. É a minha janela mais directa", explica o criativo que trabalha para uma marca "que tem criado produtos icónicos no desporto, na cultura e na mistura dos dois".
Dentro de dois anos — na altura em que estará nas lojas e na Internet a campanha que José está neste momento a inventar — o mundo, acredita, será bastante diferente. "Tenho muita curiosidade em ver como será dentro de dois anos uma geração 'visually driven', que se transfere dos constrangimentos do Facebook para o Instagram, da escrita para o gráfico, para um ambiente visual que obriga a tomar decisões criativas e andar para a frente".