A pouco mais de um mês para as eleições autárquicas, começa em todo o país a dura luta pelo palco mediático. De Norte a Sul, do litoral ao interior, de ilha a ilha, multiplicam-se as pequenas assessorias, os contactos recorrentes com as agendas, com o amigo que conhece o editor, com o próprio editor que já não atende. Que já não é editor. Que saiu na última restruturação há três meses. Não avisou.
O processo habitual já não é simples, mas estas são talvez as mais difíceis autárquicas de que há memória. As contas são fáceis de fazer: são mais de mil candidatos a câmaras e muitos mais a juntas de freguesia. E há menos espaço editorial disponível, em resultado do fim de muitos títulos e das dietas dos sobreviventes. É certo que nem todos lutam pelos mesmos watts do holofote, mas a maioria terá alguma esperança de ver uma ou outra mensagem, uma ou outra acção, num meio nacional. Começa então a loucura.
É simples de perceber que apenas as câmaras maiores e com candidatos mais mediáticos terão cobertura regular por parte das televisões, rádios e jornais nacionais. Mais um ou outro trabalho por região e abre-se a caça à breve. A luta pela pequena nota vendida via correspondente local, com a garantia de publicação no papel. “Acabou por ir para o online” lamenta no dia seguinte. “Mas fiz para o regional” ainda argumenta. “Nesse também eu consigo”, grita o candidato-cliente.
Já todos sabemos que a política tem nos meios de comunicação mais peso do que deveria. Mas a nível regional a ingerência das autarquias é ainda mais escandalosa. Quem paga manda e em círculos pequenos a fonte do dinheiro é mais simples de identificar, mais difícil de evitar. Aqui, as reeleições ganham vantagem, com os papéis do director, do comercial e do presidente-candidato a misturarem-se sucessivamente, com vantagem para o último.
É o tempo do vale tudo. Do mau de mais. E com a ameaça do desemprego a rondar as redacções — regionais mas não apenas — começam as promessas de contratos pós-Setembro, a troco de uma eleição. Felizmente este ano é bem mais cedo, o que reduz em duas semanas o espaço dos atentados. Olha a bomba!