Uma bandeira de Portugal gigante a preto e branco. Foi este símbolo, pensado por Paulo Mendes e colocado a meia haste no Edifício Axa, junto à Câmara Municipal do Porto no dia 25 de Abril, que indignou os próprios programadores daquele espaço que deram o dito pelo não dito, convidando o artista plástico a retirar a instalação.
"A 'Portuguesa Monochrome', hasteada a meia haste na Avenida dos Aliados no Porto. Contra o vento e contra certas vozes de ordens superiores. Sobre estas, a história continua dentro de minutos...", escreveu Paulo Mendes na sua página de Facebook perante as primeiras pressões da Porto Lazer e dos responsáveis do projecto 1.ª Avenida. Numa primeira instância, o artista, segundo apurou o P3, ter-se-á recusado a retirar a bandeira (parte de uma instalação que também incluía seis vídeos), alegando censura sobre a obra.
A Porto Lazer, contactada pelo P3, confirmou que a bandeira esteve hasteada e foi recolhida, argumentando desta forma: "A exposição exigia determinadas condições de produção que não estavam devidamente asseguradas".
Durante o feriado, a bandeira manteve-se hasteada e foi fotografada pelas pessoas que passeavam pela Avenida dos Aliados. Manteve-se contra a vontade dos responsáveis por este projecto cultural da cidade do Porto que no dia seguinte voltaram à carga. Paulo Mendes, convidado a participar com a instalação "Portuguesa Monochrome", resistiu ao braço de ferro até ao dia 26.
"... a história continuou e hoje, 26 de Abril, retirei a minha instalação, que não vai poder inaugurar em conjunto com as outras exposições no projecto 1ª Avenida", escreveu no seu mural. Segundo foi possível apurar, o artista terá retirado a totalidade do seu trabalho sob pena de prejudicar os trabalhos dos restantes artistas instalados no piso 3 do edifício que seria encerrado no caso de o projecto da bandeira não "cair".
Recorde-se que uma bandeira semelhante foi roubada da exposição "Sem Título", de Paulo Mendes para o Laboratório das Artes em Guimarães, que decorreu entre os meses de Fevereiro e Março.
Paulo Mendes explicava assim a sua proposta: "Micro histórias de uma macro história política, de utopias interrompidas, entre a incoerência e a demagogia, de uma classe política irresponsável e impune, o país move-se entre a vulgaridade da sua decadência e as histórias menores dos seus protagonistas anónimos. Um país nostalgicamente sem memória, sem projecto de futuro, que procura um rumo, uma nova narrativa para o seu futuro, mais uma vez adiado. A realidade é um facto ruidoso com consequências dissonantes".