Primeiro adulterou o hino português: às mãos de ±MAISMENOS±, isto é, de Miguel Januário, A Portuguesa arranca com a frase “Ireis pagar, pobre povo”, em vez do tradicional “Heróis do mar, nobre povo”.
Mas este foi apenas o primeiro capítulo da série Portugal 1143-2012 (o Aviso), lançado há pouco mais de dois meses. O segundo (a Traição) tem meia dúzia de dias e não quer ser menos polémico: Januário esfaqueou Afonso Henriques. Pelas costas.
Neste vídeo de dois minutos e meio, ao som do Requiem de Mozart, há pessoas a cair no meio das ruas de Guimarães ao estilo flash mob e estátuas e flores que sangram. A razão é uma: alguém traiu o primeiro rei de Portugal.
±MAISMENOS± foi convidado para integrar o On.Off – Laboratório de Criatividade Urbana, inserido em Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura e sedeado na Fábrica ASA. Miguel Januário aceitou o desafio de fazer “seis residências diferentes durante o ano, de Maio a Outubro”, envolvendo a comunidade vimaranense.
Uma semana por mês, durante seis meses, Miguel Januário quer “criar uma espécie de ilustração tanto do que se passa no país como do que não se passa”. Os quatro capítulos em falta vão abordar a Repressão, a Morte, a Ressurreição e a Reconquista, do nascimento do país, em 1143, a 2012, “ano da morte.
Preparar e esfaquear o rei em duas horas
Mas, afinal, como foi esfaquear o rei? Explica Januário que, depois de vários pedidos de autorização terem sido ignorados, decidiram filmar assim mesmo. Montaram o aparato necessário à volta da estátua às sete da manhã. “As câmaras, as gruas e os tripés confundiram as pessoas”, acha Januário.
Ao longo de duas horas, a equipa de filmagem recebeu, por duas vezes, a visita da polícia, mas só à segunda foi abordada e, face à falta de autorização, convidada a abandonar a tarefa de “espetar uma faca no rei e fazê-lo jorrar sangue”.
As reacções a estes dois trabalhos têm sido positivas, apesar de haver pessoas que “não percebem, por vezes, qual a abrangência ou o foco da crítica”. Miguel Januário defende que “a melhor maneira de te esconderes é à vista de toda a gente” e, por isso, aposta em intervenções artísticas no espaço ou no imaginário público. O mais recente projecto de Januário, com dois outros artistas, chama-se Ministério da Contrapropaganda.
“Não percebo o que se passa neste país: já fui jogar golfe para a frente da Assembleia da República, já adulterei o hino e esfaqueei o Afonso Henriques. Não sei o que posso fazer mais.”