Vivemos na era da informação! Nunca foi tão fácil aceder ao conhecimento, cultura e informação no geral. Nunca antes, em Portugal e pelo mundo fora, tantas pessoas tiveram tanta educação e tanto se investigou. Nunca antes existiram tantos doutores – por extenso. Apesar de tudo isso, estaremos mais cultos?
Bem, de um modo geral, tudo indica que estamos de facto mais informados. Nesse desenvolvimento do saber, temos caminhado para a especialização, com estudiosos e técnicos cada vez mais centrados no pormenor e em áreas restritas do saber. Paradoxalmente, com essa especialização, corremos o risco de, individualmente, ficarmos em simultâneo: informados na especialidade e ignorantes no geral. Claro que posso estar a exagerar, mas, cada vez mais cedo, obrigam as nossas crianças à especialização. Não estará a liberdade de acesso ao saber em causa também?
E ao nível da cultura geral, não estaremos a regredir? Então não seria ideal que, mesmo necessitando de nos especializarmos, cada pessoa pudesse saber o máximo possível de tudo? Longe de mim querer dar razão a quem diz que na 4.ª classe de antigamente se saiba mais que no 12.º ano de hoje, pois isso parece-me igualmente uma ignorância geral de alguns – ou seja mais um paradoxo. Compreender o outro, e o mundo que nos rodeia, exige múltiplas visões e experiências, quanto mais diversas melhor.
Geralmente, uma coisa complexa é muito mais do que a soma das partes em que a tal coisa se possa subdividir! Mesmo os grandes especialistas sentem, quer queiram quer não, a necessidade de comunicar e lidar com os saberes de áreas que lhes são estranhas, nem que seja para divulgar e tornarem uteis, na prática, os seus conhecimentos.
O saber não é estanque, e muito se perde quando o colocamos em “caixinhas isoladas”. O mundo, por mais que o tentemos modificar, não é quadrado. Nós próprios, se não nos adaptarmos, jamais nos encaixaremos socialmente, criando conflitos inúteis. Devíamos evitar potenciar a arrogância e egocentrismo dos grandes académicos e técnicos, que, iludidos, tendem a valorizar o seu saber parcial acima de tudo o resto. Ninguém sabe tudo, e mesmo que tente saber tudo sobre um só assunto, tenderá a ignorar tudo o resto. Ganharíamos mais se, apesar da especialidade, cultivássemos uma forte cultura geral pluridisciplinar, pois poderíamos mais facilmente lidar uns com os outros, e até criar uma liberdade intelectual inédita.
Atualmente, pensando na crise que nunca nos deixam esquecer, a nossa geração ficaria mais preparada para lidar com a falta de oportunidades se fossemos mais polivalentes, adaptáveis e dominássemos o máximo de saberes e técnicas possíveis. Ou seja, se enfrentássemos este mundo de incertezas munidos de uma sólida e variada cultural geral atual. Não podia deixar de reconhecer que a minha opinião pode ser apenas uma generalização fundamentada no preconceito - admito que corri o risco em me especializar em parvoíce, mas seguramente não serei o único.
Provavelmente, eu e os da minha geração, para além dos nossos títulos académicos prestigiantes e que supostamente atestam o nosso saber, precisamos de um pouco mais de humildade intelectual. Talvez devêssemos, para começar, partir do princípio que, apesar da nossa especialidade, a ignorância afinal é geral!