Não é um exercício ingénuo de quem acha que descobriu a formula mágica capaz de mudar o mundo, mas sim uma tentativa prática de contribuir para que algo se altere. Micael Sousa faz do combate à corrupção um modo de vida e não acha que seja utópico por isso: acredita que com educação, informação e consciencialização é possível caminhar para um paradigma de sociedade diferente.
Foi com essa convicção que, em Março de 2010, avançou com a criação do “Movimento Anti-corrupção”, que quer consciencializar a sociedade para um problema que diz respeito a todos.
A tarefa, reconhece o jovem de 30 anos, não é simples. Esbarra numa “sociedade paroquial” onde a cunha continua a funcionar como um factor chave para o sucesso. Enfrenta uma linha ténue entre aquilo que é ou não aceitável: “É muito difícil definir o que separa o tráfico de influências daquilo que pode ser considerado o capital social que uma pessoa pode ter”, admite o engenheiro civil e actual estudante de História.
Micael Sousa sonha com o dia em que se altere o paradigma da forma como encaramos o assunto, sempre “a montante dos problemas”. “Raramente, ou mesmo nunca, ouvimos defender, como modo de combate, a necessidade de mudar mentalidades pela informação e consciencialização.”
O “Movimento Anti-corrupção” acredita que o assunto deve ser introduzido logo nas escolas e, mais tarde, as universidades deviam adoptar “programas curriculares que insiram a ética profissional aplicada a cada área”. Além disso, o grupo criado por Micael Sousa propõe a criação de “conteúdos multimédia, para que a mensagem de consciencialização e informação para a corrupção chegue junto da população em geral.”
A corrupção, diz Micael Sousa, é um “fenómeno transversal a toda a sociedade portuguesa” e está presente no nosso dia-a-dia. “Quando somos favorecidos por uma ‘cunha’ deveríamos, pelo menos, ter a consciência de que isso foi injusto.”
Educar contra a corrupção
Micael Sousa não aceita a ideia de que nada possa mudar, a conversa do “corrupção há-de haver sempre, não há nada a fazer”. É preciso pensar no combate à corrupção da mesma forma que se lutou contra a sinistralidade rodoviária, com inúmeras campanhas, ou da mesma forma que se educou para a necessidade de reciclar. “Se a mesma vontade for seguida para o desenvolvimento da ética e transparência, seguramente a corrupção irá diminuir em Portugal”, afiança.
E há pequenos sinais de mudança que o fazem sentir-se optimista. Quando o “Movimento Anti-corrupção” surgiu em Portugal – primeiro como um grupo no Facebook, depois com um blogue –, Micael não encontrou quaisquer entidades públicas ou associativas que se empenhassem no tema. Meses depois, em Setembro de 2010, surgiu a TIAC – Transparência e Integridade, Associação Cívica, uma organização anti-corrupção que representa em Portugal a rede global Transparency International. “É um sinal de que a sociedade civil não está indiferente a este assunto”, congratula-se o jovem leiriense.
O caminho a fazer é, no entanto, bem mais longo do que o percorrido. Visto de fora, Portugal é um país moderadamente corrupto e, numa década, a imagem que os investidores e os observadores têm do país não melhorou. Portugal estava no 33.º lugar (em 176 países) no Índice de Percepção da Corrupção revelado em Dezembro de 2012. Está mais perto dos países transparentes (Dinamarca, Finlândia e Nova Zelândia) do que dos altamente corruptos (Somália, Coreia do Norte e Afeganistão), mas estabilizou nos piores lugares da Europa.