“Mata-os Suavemente”: só uma “performance” genial de Brad Pitt?

Andrew Dominik é bem sucedido quando comunica à audiência a sua visão da sociedade actual e da América enquanto “um negócio”. Visão que contrasta com a típica mensagem americana

Brad Pitt é obrigatório no cinema. Primeiro, não existe ninguém que nunca tenha visto um filme com ele. Segundo, quem já viu um filme com ele, tem de ver os outros filmes com ele. Terceiro, quem já viu tudo o que ele fez, sabe qual o calibre de actor que ele representa. A performance estonteante de Brad Pitt é a única variável em que os críticos concordam em relação a este filme. Quanto ao resto, há muitas dúvidas mas, sobretudo, um sentimento geral de que “Killing Them Softly” fica aquém do desejado.

Oliver Gettell, do "Los Angeles Times", diz que o filme está ancorado na performance de Pitt, mas que falha quando tenta passar uma mensagem mais profunda. O crítico A.O. Scott, do "The New York Times", concorda, dizendo que o filme está mais preocupado em criar uma aura de significados do que efectivamente a ter algum significado.

Isto não será bem assim. Inundando-nos de momentos políticos em todas as cenas em que há um rádio ou uma televisão, Andrew Dominik situa-nos em 2008, com as vozes de Bush e Obama em plena campanha eleitoral, e, então, pega na visão da América da igualdade e do sonho e contrasta-a com a dureza e realidade da máfia, que é vista como o derradeiro fruto do capitalismo. As imagens e vozes políticas surgem tantas vezes que chegam a ser personagens do filme e a sua constante presença reforça a sua importância. 

Apesar de ser impossível discordar de Gettell, quando este fala em pouca subtileza na transmissão da mensagem, é necessário dizer que Dominik é bem sucedido quando comunica à audiência a sua visão da sociedade actual e da América, que é “um negócio”. Visão, aliás, refrescante, que contrasta com a cansativa mensagem americana típica, dizendo com honestidade que na América “cada um está por si”.

Outro tópico que surge quando se fala de “Killing Them Softly” é a falta de acção, de dinamismo no ecrã. Mike Scott, do "The Times", diz: “Muitas vezes, no entanto, não há acção – apenas conversas meandrosas.” É este excesso de diálogo, unido à escolha improvável da banda sonora que, mais uma vez, faz sentir a muita gente que o filme não está no patamar que se esperava.

Uma grande câmara lenta

Contudo, Dominik pega, aqui, num tema altamente explorado pelo cinema, a máfia, correndo o risco de cair numa enorme rede de clichés. E, mesmo assim, “Killing Them Softly” destaca-se do que se costuma ver por ser como que um momento visto à lupa. Em qualquer filme de mafiosos, o “fazer desaparecer” de dois ou três “chicos espertos” que estão a dar problemas ocuparia pouco mais que dois minutos do tempo do espectador. Mas “Killing Them Softly” é uma grande câmara lenta desse acto e, por isso, as conversas são chave. Há uma exploração profunda de tudo o que se passa, de todas as interacções que acontecem.

Brad Pitt surge, então, como o carrasco que coloca a sua perícia na arte da morte ao serviço dos “big dogs”. É o cumprimento dessas tarefas que gera a última onda de comentários sobre este filme: a forma como Dominik optou por representar a violência. As vozes políticas “aos bocados” que surgem na primeira cena do filme, a banda sonora insólita quando Pitt assassina o primeiro alvo e o cuidado com os sons, no geral, não agradam a toda a gente.

Mas, mais uma vez, a singularidade dos sons torna-se uma presença especial durante o filme, que adquire um tom diferente.

Precisamente como Mike Scott diz, “Killing Them Softly”, ainda que atípico, fica longe de nos aborrecer e está à altura quando é realmente importante: no final.

Baseado na história escrita por George V. Higgings nos anos 70, “Killing Them Softly” foi adaptado ao cinema por Andrew Dominik, que fez, em 2007, também com Brad Pitt, “O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford”.

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