Livreira Anarquista: se um freguês lhe pedir o próprio livro, ela dança “Gangnam Style”

Da procura por um "livro com cantares de pássaros" ao pedido para autografar um outro "como se fossa a autora". Depois do tumblr, a Livreira Anarquista desvenda em livro a Quinta Dimensão que são as livrarias

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Livreira Anarquista (ou melhor, o alter-ego) a ler o livro DR

É a evolução natural das coisas: depois do tumblr, o livro. Tudo por culpa do avô. "A Livreira Anarquista", uma edição da Bertrand, reúne, em mais de 150 páginas, mágicos episódios da "bizarra" Quinta Dimensão onde se movem estes estranhos "seres (e forças)" chamados "Fregueses". Cabe ao livreiro ("um cargo de alto risco") restabelecer, como pode, o equilíbrio. Ou seja, à Livreira Anarquista, que prontamente aceitou responder a esta série de perguntas por e-mail.

Continuamos sem lhe conhecer a afamada identidade, mas arrancamos uma promessa: se um freguês lhe pedir o próprio livro, a Livreira arrisca uns passos de "Gangnam Style". Uma preciosa informação para juntar a outras pistas biográficas que deixa no livro: "Aprendeu a andar com 9 meses"; "Já foi várias vezes ao cinema"; "Faz parte das estimadas 3% de mulheres daltónicas no mundo"; "Tem uma fixação doentia por números ímpares"; "Tem 3 irmãos, 2 gatos e 1 namorado." 

Percebo o "Livreira"… "Anarquista" porquê?

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Mais de 150 páginas de mágicos episódios da bizarra Quinta Dimensão P3

Por causa do banqueiro do Fernando Pessoa. Banqueiro rima com livreiro (foi só adaptar ao género). Não foi um nome/título pensado, surgiu essencialmente por sonância. Aqui o termo anarquista é mais simbólico do que literal.

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Depois do tumblr, chega agora o livro, editado pela Bertrand P3

O anonimato é uma escolha, uma obrigação ou uma limitação?

É uma escolha.

O livro serve de comemoração precoce dos dez anos na Quinta Dimensão (tendo em conta que trabalha na livraria há nove e tem uma "fixação doentia" por números ímpares)?

O livro surgiu de um convite editorial cerca de 5 meses depois de ter criado o blog. De repente, e para o meu espanto, tinha 4 editoras interessadas em passá-lo para papel. Ao início fiquei um pouco reticente porque não sabia se faria muito sentido. Mas o meu avô (que não tem acesso à internet) fez-me ver que seria uma boa forma de ele também (e com ele, todas as outras pessoas que não têm, ou usam, internet) poder sorrir com os episódios. Quanto à parte da comemoração, ainda não tinha pensado nisso nesse prisma, mas sim, faz algum sentido.

Como foi transpor  o detalhe gráfico do tumblr para um livro?

Foi um processo ultra-secreto e inovador. Funcionou quase tudo por telepatia. O designer (Paulo Costa) conseguiu captar muito bem o espírito do blog o que, para mim, era essencial manter. Ser algo graficamente apelativo era a minha principal preocupação e felizmente correu tudo muito bem.

Só os fregueses portugueses é que são regidos pela Quinta Dimensão ou é global?

Acredito que, felizmente, a escala é global. Há relatos e provas concretas que confirmam a existência de experiências idênticas espalhadas um pouco por todo o globo. Mas a Quinta Dimensão apesar de ser, grande parte das vezes, aterradora e ininteligível, traz também muita alegria ao mundo.

Já alguma vez teve um dia normal?

Creio que não pois, se tenho um dia normal, isso por si só não é normal.

Gosta do que faz?

Gosto muito. Mas se não gostasse seria ou fotógrafa, ou psicopata.

Lembro-me de um post em que contava que, de alguma forma, chegou a ser confrontada com o seu alter-ego...

Um senhor perguntou-me directamente se era eu que tinha aquele blog muito famoso, o "Livreira Anarquista", e eu respondi que não fazia ideia do que ele estava a falar! O senhor ficou mesmo triste. "Oh não sabe?! E eu cheio de esperança que pudesse ser você... tinha cá um palpite... que pena." Por pouco, e assim como quem não quer nada, não lhe perguntei que números eu devia usar para o Euromilhões dessa semana.

Qual foi a pergunta mais surreal?

Impossível responder a isso; juro.

Quando é que vai sair, finalmente, a análise do "As Cinquenta Sombras de Grey"?

Para tomar verdadeiras proporções épicas decidi esperar que a trilogia fique completa.

Algum dia a Livreira ficará de acordo com o acordo ortográfico?

Nem em dia, nem noite alguma. Pudera eu escrever “f” com "ph" — mas que classe! Se a língua portuguesa continuasse "arcaica" estou certa de que seria muito mais bem tratada e, quem sabe, não fosse tão acessível escrever (e dizer) tanta porcaria.

E se alguém lhe pedir o seu livro ao balcão?

Freguês: se ao comprar o livro em questão verificar que a livreira (e sim, é uma rapariga mesmo) executa alguns passos de "Gangnam Style", é porque é ela a Livreira Anarquista.

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