O elogio da Universidade

Para que seja possível o florescimento da qualidade universitária, não podemos deixar que as universidades sejam um espaço de distorção dos seus próprios valores fundadores

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Adriano Miranda

As universidades são um dos pináculos da evolução humana. Locais de culto do saber, da ciência e do progresso, são a exortação da ambição humana no seu melhor: querer saber sempre mais, fazer sempre melhor! Por todo o mundo desenvolvido vemos universidades que são verdadeiros símbolos nacionais, locais estimados, respeitados e motivos de orgulho que se consubstanciam, muitas vezes, nas principais fontes de riqueza e prosperidade dos países (pensemos em Cambridge e Oxford na Inglaterra ou Harvard e Princeton nos E.U.A.).

A História da Universidade nos países ocidentais já é longa (remonta à Idade Média) mas nunca como hoje esta instituição humana assumiu tamanha dimensão e importância: muito do que é o jogo político-económico mundial está hoje dependente da vitalidade das universidades existentes nos diversos países.

Portugal, apesar de ter uma das mais antigas universidades da Europa (Coimbra) tem tido alguma dificuldade em perceber estes novos tempos e em conseguir fazer a transição de um modelo universitário bafiento e medieval para o modelo competitivo e aberto que o séc. XXI exige (não é por acaso que tantos cérebros acabaram por fugir…).

Portugal, como país periférico e pobre em recursos naturais que é, está absolutamente dependente dos seus recursos humanos que serão, ou não, aproveitados em função da qualidade do nosso sistema de ensino e, em particular, da força e qualidade das nossas universidades. Mas para que seja possível o florescimento da qualidade universitária, não podemos deixar que as universidades sejam um espaço de distorção dos seus próprios valores fundadores: o mérito, a disciplina, a curiosidade, a honestidade e a humildade intelectual.

A verdade é que muitas vezes deixámos que as universidades fossem invadidas por autênticas “pragas” antiacadémicas: guerras de lóbis entre cruzes, aventais e demais artefactos que põem na liderança destas instituições não aqueles que mais competências têm para o cargo mas os que mais servem os interesses dessas secretas organizações; compadrios políticos, empresariais e governativos que moldam as universidades de acordo com interesses conjunturais e particulares de certos partidos, certas empresas ou certas autarquias, e não de acordo com o interesse nacional definido numa estratégia educativa e competitiva de longo prazo; gestação de líderes estudantis com ambição de “jotinha” que usam as associações de estudantes e as federações académicas para se promoverem politicamente ou até para entrarem em esquemas de corrupção e desvio de fundos de eventos como a “queima das fitas”; guarida a estudantes incompetentes que encontram na instituição praxista o seu “lugar ao sol” disfarçando a sua inabilidade intelectual e espírito antiacadémico (sim, porque não há nada mais antiacadémico do que a importação da praxe militar (que só na tropa faz sentido) e a promoção da humilhação, do sectarismo, do conservadorismo e do dogmatismo) com a proclamação, por caloiros amedrontados e correligionários alienados, de frases como “Ave Dux Veteranorum Praxis Turis Te Salutem” em vez de “não tens vergonha de nunca mais acabares o curso?”; tolerância para com as fraudes académicas permitindo que alunos que usam cábulas ou copiam por colegas permaneçam a estudar na universidade (hábitos que se propagam (já tivemos notícia) até à formação de magistrados…); tolerância para com alunos que directa ou indirectamente “compram” a obtenção do grau académico (com exames combinados, equivalências a pedido ou avaliações sem um mínimo de exigência); tolerância para com docentes sem nenhuma competência pedagógica (que desrespeitam os alunos e as aulas) ou científica (que não têm publicações científicas de relevo e se fecham na sua incompetência).

Todas estas pragas têm que ser erradicadas das universidades para podermos prognosticar um futuro desejável! A verdade é que já estamos a caminhar nessa direcção. A nossa integração na União Europeia (e no processo de Bolonha) tem forçado as nossas universidades a abrirem-se: ao receberem estudantes e professores internacionais; ao adaptarem os currículos aos standards europeus; ao fazerem a formação dos seus quadros em instituições estrangeiras e ao receberem avaliação de profissionais internacionais; ao serem obrigadas a pensar mais no mercado e, assim, a adaptar a sua oferta e qualidade em função das necessidades do país.

E é um facto que a nossa Universidade começa a ser mais cosmopolita, competitiva e aberta e que as praxes, os compadrios, as fraudes e a incompetência, começam a perder lugar. Mas ainda há um longo caminho pela frente e compete-nos a todos ajudar, para que, no futuro, de uma nova Universidade possamos beneficiar!

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