O declínio da Europa é parcialmente económico?

O sentimento de ligação é sempre claro: primeiro o país, depois a Europa. Mas será que uma identidade nacional forte não pode coincidir com uma identidade europeia?

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Nelson Garrido

Há uma outra maleita — talvez mais grave que a económica — no actual projecto europeu que está na base da sua “tradicional” instabilidade: será possível falar de uma "identidade europeia comum"? A verdade é que as sondagens (por exemplo, ao Euro barómetro de 2010)  têm vindo a provar que, em todos os casos, os cidadãos se identificam em primeiro lugar com o seu país e, em muito menor grau, com a Europa. Claro que isto varia, consoante o país, mas o sentimento de ligação é sempre claro: primeiro o país, depois a Europa. Mas será que uma identidade nacional forte não pode coincidir com uma identidade europeia? O crescente populismo da extrema-direita, produto, principalmente, das reacções à imigração e do descrédito da capacidade dos governos (diga-se, relacionados com a esmagadora austeridade), associado a uma renacionalização da vida política nos últimos 2/3 anos parecem apontar para uma resposta negativa.

  

Por exemplo, na Holanda, os europeus do Leste têm substituído os muçulmanos como alvo da extrema-direita. Além disto, o próprio processo europeu avança inexoravelmente na direcção de um governo imperial. O processo, o pouco que tem avançado, é no sentido da centralização, de um controlo de cima para baixo, uma ditadura de burocratas e de juízes não eleitos, uma moeda imposta de cima e sem uma decisão clara sobre quem carrega o fardo das dívidas que lhe estão associadas. E só uma coisa se opõe a este resultado: os sentimentos nacionais dos povos europeus.

  

Por outro lado, frequentemente ouvimos o discurso das "duas Europas". I.é., a Europa como uma unidade na divisão ou uma divisão na unidade. Mas, independentemente da maneira como se encare, não é, claramente, uma comunidade em termos de religião, língua ou moral. Historicamente e enquanto "reacção defensiva ao terror", a moderna Europa é caracterizada por um sentimento constante de crise, de instabilidade e incerteza. Daí há quem tire uma conclusão mais geral: a de que a Europa não é realmente um estado ou uma comunidade, no sentido nacional, que cresce em conjunto organicamente. No mês passado, numa entrevista a "Der Spiegel", o intelectual francês André Glucksmann sintetizou de forma brilhante esta ideia: "As nações europeias não são iguais e é por isso que não podem ser misturadas. O que as une não é uma comunidade, mas um 'modelo de sociedade'. Há uma civilização europeia e uma forma ocidental de pensar." Esta ideia é muitas vezes retratada através do contraste entre um Norte da Europa trabalhador, protestante, disciplinado (Alemanha, Holanda e Escandinávia) contra um Sul preguiçoso, católico, ortodoxo e gastador.

 

Porém, convém não esquecer um outro factor — defendido por Fukuyama — que contribui para esta divisão real e que não é, de todo, cultural: o chamado "clientelismo partidário" comum em países como a Itália, a Espanha, Grécia e Portugal. A razão parece ser o tempo da consolidação de um moderno estado "weberiano" bem como o aparecimento da Democracia.

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