Arquitectura vive cenário histórico de “particular gravidade”
A Trienal de Arquitectura de Lisboa vai ter exposições, debates sobre intervenção cívica, bolsas para encontrar soluções anti-crise na capital e um prémio para um jovem arquitecto
O presidente da Associação Trienal de Arquitectura de Lisboa, arquitecto José Mateus, alertou esta segunda-feira, em Lisboa, que o sector vive um cenário de “particular gravidade”, que ficará na história no país.
O responsável falava numa conferência de imprensa de apresentação da equipa de curadores e das linhas gerais da programação da terceira edição da Trienal de Arquitectura, prevista para decorrer entre 12 de Setembro e 15 de Dezembro de 2013.
José Mateus comentou que, actualmente, o universo de cerca de 25 mil arquitectos em Portugal “não vê a luz ao fundo do túnel”, e que existem “alguns ateliers de arquitectura mais conhecidos em situação de pré-falência”.
Numa conjuntura de crise económica, o responsável acrescentou que, “à súbita e radical secura do investimento do país na construção”, se juntam “legislação desfasada da realidade”, “extrema burocracia nos licenciamentos” e “a inexistência de uma estratégia nacional para a arquitectura portuguesa”. “Ficará registado para a história que, no final do século XX, Portugal foi um fenómeno mundial de competência e qualidade, que, contudo, se extinguiu inexplicável e subitamente no início do século XXI”, avaliou.
Há mais em 2013, mas com menos dinheiro
José Mateus indicou ainda que a Trienal de Arquitectura vai realizar-se em 2013, “com o orçamento mais reduzido de sempre”, mas mantém o objectivo “de cumprir os princípios de internacionalização, capacidade de evolução crítica, independência, excelência e pluralidade, com a renovação dos curadores” do evento, elencou.
No final da conferência de imprensa, questionado pela agência Lusa sobre o volume do orçamento, José Mateus indicou que, como a Trienal só acontecerá a partir de Setembro de 2013, “continua em construção”, esperando ainda conseguir alguns fundos.
Acrescentou que, pela primeira vez, a Trienal não obteve nenhum apoio do Governo, através do Ministério da Cultura (actual Secretaria de Estado da Cultura) e do Turismo de Portugal, e que desapareceram muitos pequenos patrocinadores privados devido à crise económica.
No entanto, a Câmara Municipal de Lisboa cedeu um espaço para a Trienal manter a sua sede, no Palácio Sinel de Cordes, e desenvolver parte da programação, além de um apoio financeiro da autarquia e de outros mecenas como a Fundação EDP, o Millennium BCP, a Caixa Geral de Depósitos, e a Secil, entre outros parceiros.
“Compreendo que o país vive uma grave crise económica e que não é fácil, mas nós não temos receitas de bilheteira, e todo o nosso trabalho é dirigido aos profissionais, estudantes e público em geral”, sustentou.
Também em declarações à Lusa, a vereadora da cultura da Câmara de Lisboa, Catarina Vaz Pinto, elogiou o trabalho que a organização do evento tem vindo a realizar desde a primeira edição, em 2007. “Decidimos manter a parceria porque a organização tem feito um trabalho com sucesso, num posicionamento internacional e com propostas muito criativas para a cidade”, salientou.
A terceira edição da Trienal de Arquitectura de Lisboa tem como curadora-geral Beatrice Galilee, e vai apresentar um programa de exposições, um fórum de debate sobre intervenção cívica, um programa de bolsas para encontrar soluções anti-crise na capital, e um prémio para um jovem arquitecto.