Estereótipos e estupidez

Gays que gostam de desporto e são idiotas tal como todos nós? São poucos, mas existem na televisão, por cá é que não

Steve Agee e Brian Posehn em The Sarah Silverman Program DR
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Os gays são estúpidos. A sério, mas os heterossexuais também. Não tem a ver com a orientação sexual, tem a ver com o facto de todos nós, como humanos, sermos um bocadinho estúpidos. Uns mais que outros, obviamente. No ano passado, em "Finest Hour" (e em "talk shows"), o enorme Patton Oswalt contou que tinha ido a uma audição para um filme, uma comédia romântica em que queriam que ele fizesse o papel do melhor amigo gay da protagonista. Farto de ver esse estereótipo em que o melhor amigo gay é uma criatura mágica e exagerada que tem sempre algo com piada para dizer e para ajudar, sugeriu fazer umas alterações e interpretar o papel como todos os amigos gays que ele tem, que são iguais aos amigos heterossexuais e são uma cambada de idiotas. Não ficou com o papel.

Uma das minhas personagens favoritas das "sitcoms" actuais é o Max de "Happy Endings" (recuso-me a chamar-lhe "Tudo Acaba Bem", o nome que lhe deram na FOX Life, porque pode não ser mau, mas também não é bom e parece-me parvo). Interpretado pelo hilariante Adam Pally (que não é gay), um tipo que, tirando o facto de gostar de outros homens, não tem nada que indique é gay. É uma boa forma de contrariar estereótipos: é rechonchudo, não tem trabalho fixo, é calão, preguiçoso e viciado em jogos de vídeo, não gosta de estar em relações e gosta de ver desporto. É um idiota, basicamente, e tudo menos um poço de virtude. É também adorável. Uma das melhores piadas da sitcom é que existe um gay estereotipado e quase mágico no elenco de seis amigos: é uma mulher heterossexual que se comporta e exagera como um desses seres.

Max tem dois antepassados espirituais recentes: o casal interpretado por Steve Agee e Brian Posehn em "The Sarah Silverman Program", os vizinhos da protagonista que fumavam imensa droga, tinham barba, eram ainda mais rechonchudos e preguiçosos que Max e gostavam tanto ou mais de videojogos (Posehn, um metaleiro, tem, na "stand-up comedy" dele, uma piada óptima a partir de estereótipos, sobre como não é gay um heterossexual fazer um acto gay com um amigo se gritar “SLAYER” a meio).

Mencionei o facto de Max gostar de desporto porque me lembra que vivemos num país em que um homem não gostar de futebol é automaticamente razão para lhe chamarem gay, um insulto que, por si só, não devia ser insulto nem grande ofensa para quem não é (George Clooney já falou do assunto de forma bem mais eloquente do que eu conseguiria falar). E isso leva-me ao contexto português.

Havia uma personagem gay numa série cómica recente da RTP1, "Os Compadres", que existia entre as piadas à base de palavras homónimas e homófonas com que Nicolau Breyner e Fernando Mendes ganham a vida há anos (é impressionante como conseguem encontrar trocadilhos novos passado todo este tempo). O filho da personagem do Fernando Mendes na série era uma caricatura exagerada de um gay como já não usa há anos. Era 2011 e ele ouvia Excesso. Porque, como toda a gente que alguma vez se cruzou com uma pessoa homossexual na vida sabe, eles são todos iguais entre eles e ouvem todos o "Eu Sou Aquele" vinte vezes por dia (todos os que conheci ao longo dos anos confirmam isso mesmo). Falo apenas tendo visto o primeiro episódio, mas acho que não estou errado ao não esperar que a personagem tenha tido qualquer tipo de evolução com o progredir da série. Ao menos, tal como Max, idiota era certamente, mas neste caso só porque a própria série era imbecil.

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