A Holanda não é um mar de tulipas, mas há emprego

Há quem lhe chame paraíso mas não é por causa das palmeiras nem do tempo. O tempo é, aliás, um desconsolo. Contudo, há tempo: tempo para trabalhar e tempo para viver

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Paolo Margari/Flickr

Se há uma primeira lição que aprendemos com os holandeses é a de trabalhar para viver e não de viver para trabalhar.

 

Os números parecem contradizerem-se mas fazem sentido: a Holanda é dos países mais produtivos da Europa e é o país onde menos horas se trabalha. Dizem eles que por trabalharem menos horas são mais felizes e estando felizes são mais produtivos. Hoje a maioria trabalha menos de 35 horas por semana e há cada vez mais gente a trabalhar só de segunda a quinta-feira.

 

O que nos separa da Holanda a todos os níveis é muito mais do que aquilo que nos une, a começar pela forma como nos relacionamos no ambiente de trabalho. Lidar com um chefe de equipa, ou mesmo com o director da empresa, é como lidar com um colega.

 

Nas empresas as hierarquias são como a sociedade holandesa e se quisermos como a paisagem: plana, todos são tratados por igual. É impensável o uso de títulos como "doutor" ou "engenheiro". Esta informalidade é como um rastilho. Os holandeses são despreocupados com a aparência mesmo em ambientes formais, são ricos mas não gostam de o demonstrar nem de gastar — aliás gostam tanto de promoções no supermercado como os que ganham menos. O que é bom saber é que ainda há oportunidades de emprego na Holanda, 120 mil vagas, números de Abril, nomeadamente na área da engenharia, finanças, tecnologias de informação, gestão e saúde. O mercado holandês quer gente com experiência, competência e quantos mais canudos, melhor.

 

É fundamental que o candidato domine pelo menos a língua inglesa e, uma vez na Holanda, se aprender o holandês só tem a ganhar com isso. O salário mínimo é de 1446 euros e no caso de trabalhadores especializados pode andar à volta dos 50 mil euros por ano, ou mais. Para estes sortudos que ganham pelo menos os 50 mil,  o Estado holandês aplica a chamada regra dos 30%, significando que um terço do salário é livre de impostos.

 

A Holanda sabe como atrair os cérebros e investimento para o seu território. Para isso contribuem os acordos fiscais muito, mas muito simpáticos, que têm com imensos países (cerca de cem) e que faz com que as grandes multinacionais se mantenham por cá.  Não é à toa que 80 das cem maiores empresas do mundo têm holdings na Holanda e que das vinte maiores empresas de petróleo só duas chinesas não têm subsidiárias na Holanda. São sábios na produçao de riqueza, senão como explicar que um país do tamanho do Alentejo, onde há pouco mais de 1500 horas de sol por ano, e onde os campos agrícolas são praticamente pântanos, seja o terceiro país do mundo com o maior valor de exportações de produtos agrícolas? Exportam em maior quantidade flores e tomates, que, aqui para nós, sabem a água.

 

Para jovens pais, com crianças pequenas, há que avisar que as creches são caríssimas, no mínimo seis euros por hora e essa é uma das razões pelas quais as crianças holandesas só vão à creche dois ou três dias por semana. É por estas e por outras que uma enorme percentagem de mães holandesas e não só, trabalha em part time. Mesmo assim, querendo aventurar-se pelo país do stampot (prato nacional) aprenda a ser directo e troque o “talvez” por um “sim” ou por um “não”. Saiba que os holandeses planeiam o dia ao minuto (o que pode ser muito irritante) e não espere que eles o convidem para ir jantar lá a casa. Enfim, a Holanda não é um mar de tulipas, mas ainda há emprego e isso muda tudo.

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