E se o Pedro Passos Coelho fosse um jovem desempregado?

A necessidade de reclamar um compromisso político, elegendo como inimigo público número um o desemprego jovem, é um imperativo

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E se o primeiro-ministro fosse um jovem desempregado? E se esse jovem desempregado fosse um dos líderes políticos nacionais, o Paulo Portas, o Jerónimo de Sousa, o Francisco Louçã ou o António José Seguro? E se a Christine Lagarde fosse uma jovem desempregada, imigrada, e tivesse um amigo bem perto dela chamado José Manuel Durão Barroso, que estivesse também no desemprego?

Tudo fica diferente quando damos um rosto ao desemprego jovem, certo?

Diariamente conhecemos o número do desemprego e lamentamos por ele. Como todos os dias ouvimos o número de pessoas que morre em atentados pelo mundo, ou que são afligidos por uma doença grave, mas à nossa volta tudo é diferente quando passamos destes números, como o impressionante número de 35% de jovens desempregados, para “o Pedro está desempregado”. É diferente ouvir o número de 190 000 desempregados ou dar a este número um rosto! E tu conheces tantos dos rostos que dão cara aos 190.000 jovens que como tu estão desempregados.

A necessidade de reclamar um compromisso político, elegendo como inimigo público número um o desemprego jovem, é um imperativo, para o qual o exercício do rosto jovem de um decisor público a ninguém deixará indiferente.

É certo que as respostas ao desemprego jovem são complexas, difíceis, e dependem de vários actores e de um sistema de soluções, que reclama um compromisso partilhado, mas as lideranças servem para isso mesmo: produzir esforços no sentido de dar coerência a muitas soluções que tem vindo a ser apontadas, mas que carecem de uma coerência identificável, e que permita acautelar os futuro e as expectativas dos jovens.

Mas será esta uma matéria exclusiva do domínio da decisão pública? Parece ser consensual que, no que respeita ao impulso necessário ao emprego jovem, a resposta passará muito pela confiança dos empregadores numa economia crescente.

O que reclamam os jovens para que o emprego jovem seja novamente uma realidade?

1.     Será evidente a necessidade de identificar uma estratégia de crescimento e desenvolvimento económico que permita à economia encontrar áreas de investimento que conduzam a uma renovação do aparelho produtivo nacional.

2.    É necessário redefinir uma matriz de cooperação entre sociedade civil – Estado – e agentes financeiros, no sentido de reformar mecanismos de financiamento, sendo necessário restaurar um sistema de confiança e credibilidade financeiro e empresarial, como os cidadãos fizeram no momento em que foi necessário utilizar fundos públicos na recapitalização da banca.

3.    O emprego jovem é apenas uma dimensão, muitas vezes instrumental, para a vida dos jovens. A real necessidade destes prende-se com a possibilidade do desenvolvimento de um projecto de vida sustentável, com perspectiva de futuro. Para tal, é necessário identificar mecanismos de partilha social de risco, com base em conceitos de inovação social que repensem os dispositivos de Segurança Social, proteção na doença, promoção da família, realização individual e procura de felicidade de cada jovem.

Devemos ainda reconhecer que o desemprego jovem é uma dimensão visível de um sentimento de falta de perspectiva geracional. Neste capitulo, deixo duas perspectivas:

4.    É determinante acautelar o futuro das novas gerações, reclamando princípios de solidariedade intergeracional, com base na justiça entre gerações, igualdade de oportunidade no que respeita ao desenvolvimento dos projectos de vida dos jovens, e liberdade de escolha e decisão no presente e futuro destes, sem que tenham que viver sob a sombra de decisões passadas que comprometem, hipotecam e limitam a decisão pública que estes desejem.

5.    Repensar os mecanismos de relação entre representados e representantes a fim de dotar a democracia de um contínuo desenvolvimento sustentado, e que reconheça expectativas dos cidadãos, com tradução nas suas escolhas e prestação e contas, aumentando o peso da sociedade civil na vida democrática dos Estados.

O desemprego jovem deve por tudo isto ser mote, para encontrar uma nova arquitectura de desenvolvimento, uma nova narrativa social, para regressarmos ao progresso  acautelando um futuro melhor para as novas gerações.

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