Estágios, projectos-piloto, feiras, montras. Catarina Martins, deputada do Bloco de Esquerda, não aceita novas invenções de palavras para dizer o mesmo: trabalho precário. “Às vezes, fala-se dos jovens como se fossem uma abstração. Não, são pessoas, com direitos iguais aos outros.”
Para discutir (des)emprego jovem “é preciso dizer que a austeridade é estúpida”, começa a deputada. É uma questão lógica: “Dizem-nos que não temos dinheiro para pagar uma dívida e por isso não nos deixam trabalhar. Se temos cada vez mais desemprego somos menos capazes de criar qualquer dívida que seja.”
A “contestação” à política do Governo PSD-CDS e a “capacidade de as pessoas se organizarem”, diz Catarina Martins, é “essencial” para ultrapassar uma fase em que o desemprego jovem atingiu os 36,1% (dados de Março). Mesmo porque, “não faz sentido pedirem-nos a todos sacrifícios para um futuro onde não temos todos lugar”, admite.
O caminho não passa por aquilo que o Governo se prepara para fazer, com a implementação do programa de combate ao desemprego Impulso Jovem: “É um insulto achar [que os jovens] podem andar de estágio em estágio, como se tivessem de estar em formação o resto da vida; eles não precisam de provar nada”, adverte a deputada do Bloco de Esquerda, que recorda que se está a falar da “geração com mais qualificação de sempre em Portugal”.
Jovens não têm “culpa” de não ter emprego
Os estágios profissionais e o incentivo ao empreendedorismo são dois pilares do programa do executivo PSD-CDS que conta com verbas europeias. E também com o empreendedorismo Catarina Martins se mostra em desacordo: “Como é que alguém que não tem dinheiro começa seja o que for?”, observa.
A bloquista ressalva que as boas ideias devem ser apoiadas, mas chama a atenção para o perigo de se passar para os jovens a “culpa” por não conseguirem arranjar emprego. “Não há nada de errado com cada jovem que não arranja emprego, o que há de errado é com o país.”
“Políticas públicas”, responde Catarina Martins quando questionada sobre a solução. É uma necessidade para que seja possível travar os números de emigração jovem, “que lembram os anos 60 e um país a afundar-se”. Se estamos a perder uma geração para sempre? “É normal que as pessoas não regressem para um país que as trata mal e onde não têm uma ideia de futuro”, responde.
Também no ensino superior, recorda a deputada, é preciso uma aposta urgente na “acção social escolar”: “Por um lado, as bolsas não chegam a todos e por outro são muito pequenas para as necessidades.”
É pelo número estimado de desistências do ensino superior – uma média de 100 alunos por dia – que fala de um “ensino superior para elites”. “É um retrocesso brutal em relação a uma das conquistas mais importantes da democracia, que é o ensino para todos.” Catarina Martins conclui: "Chegamos a um Governo de um tal absurdo e violência que temos que afirmar todos os dias aquilo que deveria ser básico."