É possível que num futuro não muito longínquo os computadores como os conhecemos sejam um nicho de mercado. Em vez de PC usaremos terminais como o ChromeBook (portátil que a Google lançou há cerca de um ano e que funciona exclusivamente em "cloud computing") para aceder aos conteúdos que armazenamos não em discos próprios mas em servidores remotos.
O que é o "cloud computing"? Trata-se de um sistema que nos oferece a possibilidade não só de armazenamento à distância mas também de processamento remoto, isto é, em servidores sobre os quais nada sabemos. O uso das "clouds" coloca portanto alguns problemas a quem as utiliza e, neste modelo, tanto a máquina como o homem estão dependentes de uma ligação à rede.
Um dos problemas está directamente relacionado com a privacidade e traz a pergunta: como vamos partilhar na era das Clouds?
Pelo que temos visto até aqui, para além das tentativas políticas de “regularizar” a Internet, no futuro será mais difícil partilhar ficheiros.
Vejamos, as "clouds" de hoje já conseguem armazenar uma boa quantidade de música e meia dúzia de filmes. Como é óbvio, no futuro disponibilizarão mais espaço e quanto mais nos oferecerem mais usaremos e mais dependentes ficaremos. Quanto mais dependentes ficarmos destas nuvens, mais propensos estaremos, nós e os nossos ficheiros, a filtragens e vistorias.
Este sistema de "cloud" contribui para uma contínua invasão à nossa privacidade. Através da experiência recente com "smartphones", "tablets" e markets, já conseguimos perceber facilmente que os conteúdos (independentemente de serem pagos ou gratuitos) não nos pertencem. Neste momento, as marcas já têm poder absoluto sobre os nossos "gadgets", ao ponto de simplesmente eliminarem ficheiros ou aplicações sem o nosso consentimento.
E por incrível que pareça, com esta prática comum a Amazon já conseguiu vulgarizar a ideia de que cada e-book não é nosso e que a empresa pode a qualquer momento “actualizar” os Kindle e modificar ou eliminar os nossos livros, jornais e artigos. Partilhar gigabytes de ficheiros com desconhecidos do outro lado do mundo não será mais fácil com as "clouds".
O futuro da partilha na rede vai depender em muito do contínuo esforço dos piratas em criar plataformas alternativas que escapem à vigilância (tanto das empresas que vendem conteúdos como dos Governos). Projectos como o Tor, que nos oferecem anonimato na rede serão bem-vindos. A troca de conteúdos continuará a estar relacionada com a solidariedade de cada um de nós mas é provável que, para o efeito, voltemos a trocar DVD (agora "pens") e a entrada no Google “Lan parties are dead?” deixe de fazer sentido.
Os nossos discos pessoais não têm os dias contados, bem pelo contrário. Discos e "pens" armazenarão bibliotecas recheadas de literatura cinzenta.