Governo está a tentar dar um “ar respeitável” à precariedade
Deputado e líder da JS, Pedro Delgado Alves, diz que políticas de juventude do Governo não estão interessadas em combater a precariedade. Aposta nos estágios profissionais e incentivos para empresas que contratem jovens devem ser prioridade
As políticas de juventude do Governo “não estão interessadas em combater a precariedade, estão interessadas em dar-lhe um ar respeitável”. A acusação é do deputado e secretário-geral da Juventude Socialista (JS), Pedro Delgado Alves, que deixa algumas notas positivas às “intenções” anunciadas pelo Governo – como a aposta no empreendedorismo -, mas lamenta a adopção de uma legislação laboral que representa um “retrocesso muito significativo”.
“Não é através de um sacrifício das garantias que as gerações mais velhas foram conquistando que alcançamos resultados na promoção do emprego jovem”, garante. Pedro Delgado Alves diz que a ideia de que tornar os despedimentos mais fáceis vai provocar mais emprego vocacionado para os jovens é um “pensamento falacioso”: “Desde logo porque, muitas vezes, são os trabalhadores mais jovens os afectados, porque também é mais barato despedir quem tem menos anos de casa”.
O líder da JS está convicto de que a austeridade não é o caminho e que é necessária a implementação de um modelo económico que promova o emprego. Trata-se, sim, de uma "austeridade obsessiva". A aposta nos estágios profissionais deve ser, por isso, reforçada através de incentivos públicos. E as empresas que apostem nos jovens devem ser compensadas com “benefícios no plano fiscal e contribuição para a segurança social”, sugere.
Áreas cruciais
A aposta do Governo deve ser sobretudo “nas áreas nas quais se apostou [na formação] nos últimos anos”, nomeadamente nas “energias renováveis, investigação e novas tecnologias”, afirma o deputado socialista de 32 anos. Uma “intervenção legislativa” pode ser a solução para a melhoria no acesso a algumas profissões qualificadas cujo mercado de trabalho se apresenta mais fechado.
O empreendedorismo deve também ser incentivado através de um “conjunto de medidas no plano fiscal e de protecção social” nos primeiros anos da criação do próprio negócio. E todas as medidas devem aproveitar o “financiamento que a União Europeia está disponível para dar”, lembra o jovem, que admite posicionar-se "à esquerda do centro-esquerda" do PS.
O desemprego jovem – que atingiu no último trimestre de 2011 os 35,4% para a faixa dos 14-24 anos – não é o único problema que esta geração enfrenta. E o outro, “a precariedade, não é a fórmula mágica que vai tirar as pessoas da situação em que encontram”, julga Pedro Delgado Alves. “Grande parte das propostas do Governo e aproximadamente um terço das propostas da JSD correm o risco de reforçar a dimensão precária de muitas relações laborais.”
É um “presente envenenado”, adverte: “Oferece relações flexíveis como o caminho para se arranjar algum emprego, na óptica do ‘é melhor algumas migalhas do que coisa nenhuma’, mas esse caminho é perigoso”.
Emigração não é a saída
A criação de emprego é responsabilidade do Governo, acredita o secretário-geral da JS, para lamentar a postura recente de alguns sociais-democratas ao falarem da emigração: “Tentaram depois emendar, dizendo que o que queriam eram valorizar as experiências profissionais. O que estamos a falar é de um convite à emigração, é dizer às pessoas que não têm alternativa em Portugal e que o Governo não constitui essa alternativa”.
A saída de jovens do país – estima-se que um em cada dez o faça – é um “regresso a um modelo típico dos anos 60 ou 70, em que grande parte da emigração decorria da grave situação económica do país”.
“O mais absurdo é o grau de despudor com que responsáveis políticos como o primeiro-ministro, o ministro dos assuntos parlamentares e o próprio secretário de estado da juventude o disseram e depois emendaram dizendo que estão só a apelar às pessoas para que procurem outra experiências, saindo da sua zona de conforto”, diz Pedro Delgado Alves. “É um encolher de ombros desinteressado como que a dizer ponham-se a andar.”