O modelo de representação estudantil, que herda a ideia do movimento associativo que se levantou no final da década de sessenta - a que encontrou nas lutas pelas liberdades fundamentais e contra o fascismo um inegável argumento para a sua actividade - entrou em decadência na última década.
As Assembleias Gerais de Estudantes têm participações residuais, o que questiona a legitimidade do modelo e as estruturas assentam bases num falso conforto. As eleições para os órgãos enfrentam taxas de abstenção superiores a 80% e as ideias para a qualificação do sistema de ensino superior foram relegadas para segundo plano. As massas não se revêem nos representantes e parte dos representantes sofrem de um autismo atroz.
Entre uma parte do movimento associativo, as estruturas das praxes académicas e as juventudes partidárias há uma relação que se confunde. Estruturas de representação estudantil, como é exemplo a Federação Académica do Porto (FAP) - a maior do país - seguem, entre outras, a missão de financiar actividades das praxes académicas e de proporcionar aos provedores da tradição académica luxuosas jantaradas paralelamente à ousadia de defender a refeição social mais barata, de dar aos seus dirigentes uma vida mais folgada e confortável e de fazer aproximações estratégicas, muitas vezes incompreensíveis, às juventudes e seus dirigentes e de proporcionar milhares de entradas livres a não estudantes num evento que ainda designam como “a festa dos estudantes” ou Queima das Fitas.
No centro das atenções desta actividade paralela e sombria não estão, certamente, os interesses dos estudantes e a imoralidade oculta deste movimento associativo sobreorçamentado rompe a confiança na relação entre os representantes e representados.
Parte do associativismo é uma creche de políticos e isso é diagnóstico de uma falsa legitimidade e aproveitamento indevido. O movimento associativo vive infiltrado de juventudes partidárias; poderia isso não ser negativo se dos próprios não houvesse a vergonha de assumir essas ligações, participam assim na auto-reprovação da sua conduta.
As estatutariamente definidas - e democraticamente válidas - plataformas de discussão e decisão foram suplantadas. Vende-se a alma do movimento académico mas nunca é tarde para a recuperar, porque o verdadeiro poder, esse, está noutro lado.
O movimento estudantil entrou em falência e isso não é necessariamente mau. Às instituições impõe-se uma reforma profunda e conveniente que comece por colocar em causa todos os hábitos e o cumprimento das missões. Um movimento estudantil não inclusivo, não motivador das massas e que não releve com a devida importância os temas estruturais do ensino superior é um fracasso que, em Portugal e nomeadamente na Academia do Porto, se converteu num clã de poucas dezenas de pessoas de interesses próprios e que se instalam nas instituições para conforto próprio e gáudio individual.
Um novo paradigma de representação surgirá, necessariamente, mais próximo dos princípios fundadores do movimento da década de sessenta. A posição de cada estudante valerá e cada um poderá torná-la pública de forma legítima e democrática, sem obstáculos de representação. Assim, a proposta do sistema de ensino será uma construção conjunta e colectiva e que surgirá num debate participado que partirá da experiência de cada um e não - como até agora - do tal clã que se perpetua no Ensino Superior.