Até podia ter sido por causa do “apagão” da televisão analógica, que ocorre em Portugal desde o início de Janeiro, mas a verdade é que a TV já tinha saído de casa deles antes disso. A passagem para a Televisão Digital Terrestre (TDT) pode, hoje, ser um argumento, mas não é o principal.
Se Nuno Luz, designer gráfico de 40 anos, tivesse de explicar como tudo aconteceu, era mais ou menos assim: “Há seis meses atrás mudei de casa e, nessas mudanças, uma televisão antiga que eu tinha, daquelas com antena própria e tudo, estragou-se. Pensei logo: ‘Estragaste-te? Ainda bem. É da maneira que vou arranjar outra forma de ocupar o tempo’”.
E “puff”, desapareceu a TV da vida de Nuno. Na verdade, Catarina Marques, de 32 anos, partilha o mesmo tempo e contexto de “jejum televisivo”. Também foi há cerca de seis meses e, também, numa mudança de casa, que a designer de comunicação e ilustradora infantil disse adeus ao aparelho, no seu caso, pelo “facto de não ser uma prioridade”.
Para Cecília Folgado (35 anos), adjunta da Direcção de Comunicação do teatro São Luiz, também não o era, mas há mais tempo. “Vivo feliz sem televisão desde Julho de 2008”, diz ao P3. A decisão tomou-a, em primeiro lugar, porque, quando mudou de casa (também?!), não tinha dinheiro para comprá-la. Antes disso “estava o sofá, a mesa da sala de jantar e muitas outras coisas”. Em segundo lugar, porque sabia que, sem televisão, teria mais tempo para fazer outras actividades.
“Computer killed the TV star”
Mas ninguém pense que, apesar de tudo isto, o bichinho da TV tenha desaparecido. Catarina não põe de lado a hipótese de a voltar a ter, Cecília vai a casa de amigos em ocasiões especiais (eleições, “tomada de posse do Obama”), e Nuno, quando entra num café, fica a olhar para ela “como um boi a olhar para um palácio”.
O problema de Nuno é que, em casa, tem companhia: uma filha de sete anos. Ora, uma filha de sete anos é sinónimo de pessoa que gosta de ver televisão. Como é que se resolve o problema? “Vou arranjando uns filmes para ela ver no computador. Coitada, está é sempre a ver os mesmos!”.
Ainda assim, para todos eles, o computador é o perfeito substituto do televisor. “O computador é a minha ferramenta de trabalho e, depois, passou a ser também de lazer, através dos blogues, música… (…) É a minha varinha mágica”, explica Catarina. De facto, só com essa magia é que foi possível afastar Nuno da TV, que antes era “um gajo muito agarrado” a ela. “Quando usas o computador és mais activo, tu é que escolhes o que queres ver”, diz.
O paliativo perfeito
Cecília concorda, mas dá uma designação interessante ao comportamento: “Hoje em dia, se calhar, sou uma falsa pessoa sem televisão, porque como podemos aceder a vários programas na internet (…) tenho um maior critério nas minhas escolhas”.
“Aquilo de que eu sinto falta, às vezes, é do impacto das notícias na televisão”, conta Cecília. “Na altura da Primavera Árabe e dos terramotos no Haiti e no Japão, estive mais tempo imune às imagens”. Algo que, diga-se de passagem, não incomoda Nuno Luz: “Como se está sempre a falar da crise económica na TV, estou mais alheado de tudo isso e não ando tão deprimido como outras pessoas”.