No passado dia 15 de Dezembro, a Associação Cívica Sedes, em Lisboa, inserida no ciclo “6 Debates, 6 Temas – Fazer Cultura em Portugal”, convidou o actual Secretário de Estado da Cultura (SEC), Francisco José Viegas (FJV), para uma conferência sobre este tema.
FJV começou por dizer que nunca acreditou muito na expressão "políticas culturais”. Será que sou só eu a achar esta declaração bastante obscena, vinda da boca do (actual) SEC? Penso que pouco nos importamos com as crenças ou cepticismos de FVJ, desde que obviamente não pertençam ao âmbito da Cultura. Sou tentada a criar a seguinte hipotética situação, considerando os dois simplórios materiais: um martelo e um cérebro (pertencente a um ser humano vivo, por exemplo, o FJV). Agora façamos o seguinte: eu sei que vossa excelência, FJV, não acredita muito que martelar um cérebro aleije por aí além. Então faça a firmeza de o oferecer à experiência do martelo e aguardar pelo resultado. Estamos entendidos?
Uma boa política cultural, não é uma questão de fé, é uma coisa lógica, estudada e posta em prática por alguns países (por exemplo, a Holanda ou a Eslovénia) e pasme-se, senhor SEC, costuma funcionar.
Todo o discurso proferido por FJV, durante cerca de uma hora que durou a conferência, foi de evasivas e fintas às questões feitas por uma plateia recheada de artistas e gentes da Cultura. Quando questionado acerca dos cortes das estruturas financiadas pelo antigo governo, FJV disse que a SEC ainda está a negociar os cortes , “caso a caso e em função da tesouraria”, que é como quem diz ainda não sabemos, ainda estamos um bocado à nora. Já mesmo a fechar a conferência a bailarina e coreógrafa Vera Mantero perguntou objectivamente: “qual será o novo modelo de apoio às artes?”, FJV não pigarreou, respondeu displicente e convicto: “não faço ideia”. Será que ninguém avisou o SEC que a lógica socrática numa altura destas não serve os propósitos, e muito menos revela sabedoria dentro da ignorância?