A minha amiga da bica é “def”

Os pré-conceitos são tramados. Deixem-me então apresentar-vos a minha amiga: a Mafalda é uma mulher que sofre de uma doença rara, a osteogénese imperfeita

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Promovido pelas Nações Unidas desde 1998, comemora-se este sábado, dia três de Dezembro, o dia internacional das pessoas com deficiência.

Desde que conheci a Mafalda Ribeiro, há sensivelmente sete anos, que a minha perspectiva sobre as pessoas que sofrem de algum tipo de deficiência se alterou. Quer queiramos, quer não, todos fomos formatados para averiguar o grau de “normalidade” contido em cada pessoa.

Os pré-conceitos são tramados. Deixem-me então apresentar-vos a minha amiga: a Mafalda é uma mulher que sofre de uma doença rara, a osteogénese imperfeita (a chamada doença dos ossos de vidro). Aquando do seu nascimento, foi-lhe dado um prognóstico médico de apenas 25 dias de vida. Certo é, que já vai a caminho dos 29 anos, e a sua energia parece absolutamente inesgotável. Mafalda estudou jornalismo, é técnica de comunicação e escritora (lançou o livro, Mafaldisses – crónica sobre rodas em 2008), e está neste momento em pleno processo de escrita do seu segundo livro, este de viagens, depois de ter estado durante algum tempo em Israel, mais precisamente na terra santa.

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Posso garantir que a palavra escrita dela é tão transparente como o seu olhar, deixando-nos entrar dentro de si e perscrutar o que de melhor um ser humano pode ter.

Somos amigas e cúmplices da escrita, e há muito que nos tratamos por um "nickname": “amigas da bica”. Isto porque, como moramos longe e a mobilidade da Mafalda é muitas vezes cingida aos condicionamentos de outros, achámos irónico ficcionar essa proximidade, de quem se encontra a qualquer momento no café da esquina.

Perante o espanto de quem convive consigo e observa um equilíbrio e tranquilidade ímpares, ela costuma justificar-se simplesmente com um “eu sou assim”.

São muitos os episódios que esta minha amiga já viveu, repletos de um olhar reprovador e de franca censura por parte de quem não a conhece. Enfim, há totós por toda a parte. O melhor é ignorar, embora às vezes, se tenha de controlar o impulso de a defender, reprimindo a vontade de responder à ignorância com um tabefe certeiro.

É claro, que ela está longe da perfeição, é uma palradora nata (leva os seus ouvintes ao desmaio por exaustão)e muito gulosa. É uma pessoa igualzinha às outras, só que em vez de caminhar, a sua vida anda afinal sobre rodas. Percebi que os pré-conceitos no que concerne a este tema, derretem-se no coração como manteiga e barram-se no pão, de preferência, acompanhados por uma bica.

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