Namorar à distância é mais fácil com Internet e voos "low-cost"
As novas tecnologias e as viagens "low-cost" vão reduzindo os milhares de quilómetros que os separam. Namoram à distância, conciliam amor com conquistas profissionais
A crise económica, a falta de oportunidades e os baixos salários praticados em Portugal levam cada vez mais casais a morar em países diferentes. Um dos elementos do casal emigra, mas a relação amorosa mantém-se. A confiança e a compreensão são os ingredientes principais, diz quem namora à distância, mas as companhias "low-cost" e as plataformas de comunicação digital também ajudam a manter acesa a chama da relação.
Sandra Dias tem 38 anos e namora com Luís Conceição há 12. Conheceram-se na faculdade mas hoje moram em países diferentes por motivos profissionais. Luís mudou-se, em 2006, para o sul de Londres, mais precisamente para Croydon, onde trabalha desde então. Sandra é bolseira de pós-doutoramento no Instituto Tecnológico e Nuclear (ITN), em Sacavém.
Usam o Messenger e o telemóvel como meios de comunicação - Luís tem chamadas para a Europa incluídas no contrato de telemóvel - e viajam nas companhias aéreas "low-cost" para se verem mais amiúde. Sandra diz que, em média, um bilhete de avião Lisboa-Londres custa entre 70 a 90 euros, pela EasyJet, e que o compra com cerca de dois meses de antecedência sob pena de encarecer. Já Luís viaja entre os 30 a 60 euros para ver a namorada de há mais de uma década.
Encontram-se pelo menos uma vez em cada dois meses e o Natal e a passagem de ano são sempre passados em conjunto. Contrapartidas? "Obviamente há planos que vão sendo adiados (como comprar casa ou ter filhos) e isso pode ser um factor de tensão entre o casal", relembra Sandra.
A psicóloga Raquel Camarinha Barbosa afirma, em entrevista ao P3, que é "no mínimo difícil e desafiante para uma relação amorosa sobreviver à distância". Recorda, todavia, que tudo depende da "qualidade da relação, da intimidade que alimenta os afectos".
"Assim como em todas as relações amorosas, que só sobrevivem quando duas pessoas se amam verdadeiramente e investem na relação, o amor à distância também será desta maneira: só terá sucesso se duas pessoas investirem e lutarem para que o relacionamento se fortaleça cada vez mais", acredita a psicóloga.
A distância pode ser contornável
João Vieira já esteve longe de Ana Babo por várias vezes. Ambos têm 28 anos e namoram há sete. Ana integrou o programa Erasmus em 2008, em Turim, Itália. Foi a primeira separação: seis meses. João seguiu-lhe os passos e em 2008 partiu para Eindhoven, Holanda, onde permaneceu durante um ano.
Em 2011, dois anos após ter terminado o Mestrado em Arquitectura na Universidade do Minho, João, por não conseguir um emprego estável, decidiu rumar a Itália, integrado no programa Leonardo da Vinci. Actualmente exerce arquitectura em Vibo Valentia, Itália, e Ana, economista, reside em Amarante, a cerca 60 quilómetros do Porto.
É através do Messenger, Skype e sobretudo do telemóvel, que consideram ser "o melhor meio de comunicação embora um pouco mais caro", que vão matando saudades. Tal como o casal anterior, também usufruem das companhias "low-cost", neste caso, da Ryanair, que João considera ser uma mais-valia. O Natal vai marcar o fim de uma estada de três meses de João no exterior, mas só o futuro dirá o número de vezes que poderão voltar a separar-se.
Tanto Sandra Dias como João Vieira concluem que a distância pode ser, efectivamente, prejudicial - mas não é, de todo, um "entrave preponderante". É João quem o diz: havendo compreensão, a distância é contornável.