Em Outubro, mais de 61 mil pessoas com o ensino superior concluído estavam inscritas nos Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), número que expressa uma taxa de desemprego de 11,4%, mais 1,4 pontos percentuais do que em igual período do ano passado. Portugal nunca teve tantos licenciados, mas as portas do emprego não param de fechar. E, nesse cenário, emigrar é cada vez mais uma solução: um em cada dez licenciados decide abandonar o país.
O fluxo de emigração atingiu nesta década valores só comparáveis aos dos anos 60: fala-se de 60 mil saídas por ano, face às 70 mil de há 50 anos. Os dados da Unesco expressam bem a realidade deste século: em 2000, havia 10500 estudantes portugueses no estrangeiro; em 2005, 12220; e em 2009, 12500.
Existe uma “tendência lenta, mas continuada, de pessoas a saírem do país”, analisa a socióloga Margarida Marques. Saem em luta contra o desemprego ou fogem de contratos a termo e dos recibos verdes, porque só um terço consegue uma situação profissional longe da precariedade.
Circulação de cérebros
Há, no entanto, um lado positivo que não pode ser ignorado, acredita a socióloga da Universidade Nova de Lisboa: “A saída dos jovens é também uma forma de ganhar competências técnicas e sociais, indispensáveis para uma economia aberta e global”. E acrescenta: “Portugal está a entrar nesta tendência de circulação de cérebros e há muitos jovens nesta corrente do mercado. Pode ser muito positivo, assim o país os saiba aproveitar”.
David Cabral faz parte desta corrente desde 2008. Foi estudar para Los Angeles – depois de passar pela República Checa e Dinamarca – e garante que não quer voltar a Portugal, porque o país não lhe dá oportunidades.
Esta é uma questão importante na hora de analisar a emigração entre os jovens portugueses: se houvesse oportunidades para todos no país, os números da emigração seriam os mesmos? “Estou convencida de que, se pudessem, não saíam”, admite Margarida Marques.
É uma análise coerente com os dados do Eurostat: em média, 53% dos jovens na União Europeia responde “sim” à pergunta “gostaria de trabalhar noutro país?”. Mas, em 2010, apenas 3,2% trabalhavam noutro país europeu.
A ligação afectiva ao país continua a ser um factor importante. Liliana Duarte foi para a Suíça em 2005 fazer um doutoramento. E foi em Zurique que acabou por construir vida: tem um emprego, é casada e tem um filho. Vive bem. Mas quer regressar: “Se tivesse uma oportunidade, regressava hoje”, assegura.
A socióloga Margarida Marques está convencida de que os números da emigração jovem e qualificada vão crescer ainda mais: “Quando estão num impasse, as pessoas têm tendência para explorar todas as possibilidades”.
O secretário de Estado do Desporto e Juventude, Alexandre Mestre, foi mais longe: “Se estamos no desemprego, temos de sair da zona de conforto e ir além das nossas fronteiras”, afirmou, no final do mês de Outubro.
E, em “defesa” de Alexandre Mestre, o ministro-adjunto dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, também se pronunciou sobre o assunto: “Quem entende que tem condições para encontrar [oportunidades] fora do seu país, num prazo mais ou menos curto, sempre com a perspectiva de poder voltar, mas que pode fortalecer a sua formação, pode conhecer outras realidades culturais, [isso] é extraordinariamente positivo”.