Nodar joga com a equipa "Football Sound Narratives"
“Progressive Devuvuzelation of the World”, “Forza Bari! Alé! Alé!” e “You’re Just a Small Town in Derby” são alguns temas do álbum
A aldeia de Nodar não tem uma equipa de futebol – o clube mais próximo é o Grupo Desportivo Parada, na vizinha Parada de Ester que disputa os Distritais de Viseu –, mas tem um “onze” muito especial cuja arma secreta é o field recording. Chama-se “Football Sound Narratives” e engloba uma equipa de artistas internacionais com obras sonoras dedicadas ao futebol.
“Abordamos de forma desassombrada um tema que encerra interessantes aspectos antropológicos”, disse ao P3 Luís Costa, presidente da Binaural/Nodar, associação cultural preocupada (desde 2004) em colocar Nodar no mapa. “Uma determinada partida de futebol não é percebida de forma igual em zonas rurais ou urbanas, em Portugal ou na Nigéria, pelos profissionais da cultura ou por operários da Lisnave”.
A associação procura estabelecer uma “relação estreita entre pesquisa artística e realidades geográficas, sociais e culturais específicas”, particularmente na zona rural de São Pedro do Sul onde acolhe desde 2006 projectos em residência artística de arte sonora e contemporânea, explica Luís Costa. “Existe um compromisso em nos ligarmos ao mundo através de formas artísticas de pesquisa e reflexão e de escolhermos temas e realidades que fujam aos cânones em voga no mundo artístico.
Vuvuzelas e massa com carne
O álbum “Football Sound Narratives” é mais ou menos assim: Rui Costa, o guarda-redes, sugere a “desvuvuzelação” do mundo pós Mundial (“Progressive Devuvuzelation of the World”); a italiana Manuela Barile, média ala, recriou um almoço de domingo a comer massa com carne e a ouvir o relato do Bari (“Forza Bari! Alé! Alé!”); e Duncan Whitley distorce os lances de um Coventry City-Nottingham Forest (“You’re Just a Small Town in Derby”).
O emblema Nodar abriu as portas e recebeu candidaturas dos principais campeonatos. “A compilação aborda aspectos sonoros e narrativos das dinâmicas dos ultras em Brescia, Itália, ou em Coventry, Inglaterra, da forma como a Premier League inglesa é vivida em Lagos, Nigéria, dos festejos de vitória de uma Primeira Liga em Lisboa, da forma como um Campeonato do Mundo futebol afecta o espaço público de uma cidade como Paris, das vivências íntimas e familiares durante um jogo de futebol em Bari, Itália...”
O mundo já esteve perto de Nodar – Duncan Whitley acompanhou os treinos e jogos do Parada, gravou as dinâmicas entre treinador, jogadores e adeptos, misturou bem e serviu no Museu de Serralves, em 2010. “Este é o aspecto irónico da nossa intervenção: ou seja, os contextos simples e autênticos do mundo rural português acabam por ser escutados ou mostrados em museus ou auditórios do Porto, Berlim ou Nova Iorque”. É a vez de Nodar se apresentar ao mundo. Com ou sem uma verdadeira equipa de futebol.