“Tenho uma regra simples para detectar o mau design. Sempre que encontro indicações de como usar alguma coisa, trata-se de um objecto mal projectado”.
Parafraseio Donald Norman como leitmotif para esta crónica, à medida que revisito, em modo copy-paste, os meus apontamentos sobre os terminais de acesso público (TAP) do Metro do Porto para compra e validação dos títulos de viagem. O realinhar de dados que se sucedem no ecrã do computador, cedo traduzem uma identidade hermética e um diálogo Homem-Máquina pouco amistoso, não induzindo à acção correcta ou facilitando a recuperação de erros de utilização em diferentes contextos de uso.
A figura do Estrangeiro, há muito me serve como metáfora para analisar a operacionalidade de um produto ou serviço, pois personifica um conjunto de características que reporta para a circunstância, partilhada pela maioria dos seres humanos em alguma altura da vida, de desconhecer e, em contraponto, de descobrir. Por analogia, num TAP, e como tal de uso massificado, assim se pode sentir o idoso com deficits de acuidade visual ou motora, o jovem adulto com incapacidades físicas temporárias ou permanentes, ou um sem número de outros cidadãos com níveis de literacia e referências culturais distintas.
Tendo sido a primeira linha inaugurada em 2002, seria expectável que em 2011 houvesse menos “Estrangeiros” na utilização dos TAP do Metro do Porto. Qual a razão? Recurso a uma codificação de zonas (Z2; Z3; Z4) ausente de um referencial mensurável (como se define uma zona?...); Restrição do utente em alterar as zonas do cartão durante o período limite de tempo associado ao respectivo código, obrigando-o a aguardar pelo término do mesmo ou a adquirir um novo andante caso decida alterar o percurso; Um inadequado sistema de validação, não induzindo o utilizador a validar o título correctamente sendo pouco visível/audível o estado da operação; Mensagens ambíguas após a acção para carregamento (Nº de títulos? Mudar de zona?); Altura da interface inadequada para um utente de cadeira de rodas; Ranhura para pagamento MB demasiado próxima do local de inserção do cartão andante, resultando em enganos na colocação deste; Ecrã para pagamento MB de dimensões exíguas e pouco visível, sugerindo que o utente aguarde por uma nova instrução no visor principal.
Os TAP do Metro do Porto privilegiam a lembrança em detrimento do reconhecimento das acções, constrangendo o nosso dia-a-dia e, por isso, recomendando um futuro re-design. Até lá, vamos recorrendo às “…indicações de como usar…”, e usufruindo das viagens num dos mais aprazíveis metros da Europa.