"À Rasca" ou "indignados"? Sete meses depois da inesperada manifestação espontânea na cidade do Porto, a indignação saiu à rua com novos rostos.
No rescaldo do anúncio de medidas severas para os próximos anos, a cidade esperava reacções igualmente severas manifestando sentimentos de injustiça e de desespero.
Nada disso se passou no sábado, 15 de Outubro! A multidão, reduzida a menos de metade, foi mais tolerante, compreensiva e organizada. O grito de revolta preparado nas redes sociais em Março e que ecoou nos ouvidos de Sócrates, transformou-se num sussurro de indignação para Passos Coelho pautado pela movimentação organizadamente aborrecida das massas.
Os tão criticados iPhones de Março deram lugar aos megafones de Outubro. O anonimato e a heterogeneidade dos manifestantes na Primavera foi substituído por grupos muito mais politizados no Outono.
Quem esperava ver de novo cor, imaginação e diversidade, levou com imagens a preto e branco desapaixonadas e muito pouco espontâneas. Muito provavelmente porque a espontaneidade não é repetível, ou, às tantas, porque quem fez questão de se revelar ‘à rasca’ há sete meses não encontra hoje razões para mostrar a sua ‘indignação’ na rua.
A mensagem primaveril nas ruas do Porto foi espalhada olhos nos olhos com o futuro; no Outono, folhas caídas, a ‘assembleia popular’ de lição estudada respirava resignação de forma mecânica.
Basta lembrar: no final da manifestação de Março, a organização divulgava na Praça da Liberdade, através de um megafone e no meio de uma alegria esfuziante, uma estimativa de participação de cerca de 80.000 pessoas; no rescaldo da manifestação de Outubro, a mesma organização estimava, através de uma amplificação sonora muito mais eficaz instalada em frente à Câmara, a presença de cerca de 20.000 manifestantes que não comemoraram os números. Entre a Primavera e o Outono... foram-se os anéis, ficaram os dedos!