Jovens até aos 24 anos fizeram 33% do total de abortos em 2010
"Não estamos a ser eficazes em termos de educação sexual dos jovens", diz Duarte Vilar, director-executivo da Associação para o Planeamento da Família
Mais de 33 por cento das interrupções voluntárias da gravidez efectuadas em 2010 foram feitas em raparigas até aos 24 anos de idade. Os dados da Direcção-Geral de Saúde confirmam uma tendência que já vinha de 2009.
E significam o quê? “Significam que os cuidados de saúde primários, que têm um papel crucial em termos de planeamento familiar, estão a falhar rotundamente, como está a falhar a educação nas escolas”, aponta Luís Graça, médico obstetra.
Constatando que os jovens “são mais propensos ao risco e a negligenciarem a prevenção”, o responsável do serviço de obstetrícia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, aponta ainda o dedo “aos disparates que todos os dias se vêem reproduzidos na imprensa 'light' e que dizem que a pílula faz borbulhas ou que faz engordar...”.
“São tudo coisas que fazem com que as pessoas não procurem essa protecção e que depois as colocam na situação pior de terem que recorrer ao aborto”, insurge-se. Segundo a DGS, foram feitas 19.436 interrupções voluntárias da gravidez em 2010. Destas, 6.519, ou seja, 33,5 por cento, foram feitas em raparigas até aos 24 anos. O ano anterior não fora muito diferente.
Educação sexual
Dos 19.848 abortos realizados, 34 por cento disseram respeito a raparigas até 24 anos. Duarte Vilar, director-executivo da Associação para o Planeamento da Família, concorda com o diagnóstico.
“Não estamos a ser eficazes em termos de educação sexual dos jovens. Há progressos a registar em termos de educação sexual nas escolas, mas precisamos de uma educação sexual consistente e isso, infelizmente, não temos”. Por outro lado, “é preciso garantir um acesso mais fácil dos jovens aos contraceptivos e os centros de saúde estão preparados para receber estes jovens”.
Claro que estas interpretações não podem ignorar que “nestas faixas etárias uma gravidez raramente é bem-vinda”, como lembra ainda Duarte Vilar. Já nas faixas etárias seguintes, “uma gravidez não planeada pode mais facilmente transformar-se numa gravidez desejada, porque estão já mais próximos os contextos de casamento ou de união de facto e de alguma estabilidade laboral”. Efectivamente, das mulheres que abortaram por opção em 2010, 17 por cento declararam-se estudantes.
Outras 17 por cento disseram-se desempregadas. Dado curioso: 49,3 por cento destas mulheres viviam em regime de coabitação. E quase 20 por cento admitiram que já tinham realizado um aborto anteriormente.