Festival Circular, um beco com saídas
Até ao dia 1 de Outubro o evento apresenta dança contemporânea, performance, artes plásticas, teatro e música
O Circular Festival de Artes Performativas obriga-nos a dar voltas à cabeça, a remexer no seu interior e a encontrar saídas — para um beco sem saída.
Dissemina-se por espaços convencionais ou nem por isso, faz propostas, atravessa linguagens (dança contemporânea, performance, artes plásticas, teatro e música) e tenta responder (conversas, palestras, Derivas Artísticas...).
A 7.ª edição acontece entre os dias 24 de Setembro e 1 de Outubro, em Vila do Conde, e como cabeça de cartaz apresenta “estreias absolutas ou nacionais”.
Logo no primeiro dia, pelas 22h, o Teatro Municipal testemunha a sobrevivência, em “(M)IMOSA” – projecto colectivo dos coréografos e bailarinos Cecilia Bengolea, François Chaignaud, Marlene Freitas e Trajal Harrell – da tradição de dança Vogue e das imagens que ela carrega: salões de baile do Harlem no início dos anos 60 frequentados por homossexuais, travestis e transsexuais afro americanos e latinos.
Também a 24, Alexandre Estrela inaugura na galeria Solar a exposição “Wall Against the Sea” (patente até 13 de Novembro), onde fixa ecrãs que reagem ao mundo real, ecrãs resistentes com tiques orgânicos. “A persistência mole das imagens pode mesmo corromper a solidez da matéria, num processo de erosão que consome as certezas físicas”, escreve o artista.
Mas o Circular também improvisa. No dia seguinte (17h, no Jardim do Centro de Memória) deixa essa missão nas mãos de Miquel Bernat e do colectivo Drumming que vão desconstruir a partitura “In C”, do compositor americano Terry Riley, criada em 1964.
Estreia "The Trap"
Descemos outro degrau (terreno vago na Av. Figueiredo Faria, junto ao Mosteiro de Santa Clara, nos dias 28, 29 e 30) e evoluimos com “Literal”, de Francisco Tropa e Laurent Pichaud, dupla que já se encontrara no Circular para construir "Um traço sobre um muro" e "à t i t r é - deux sujets à interprétation".
Depois, no dia 30, sentimos o chão balançar suavemente (“War of Fictions”, de Sidney Leoni e Luís Miguel Félix). A sala está quente, um dos performers aproxima-se e olha para as tuas mãos. A luz é espessa e colorida.
Ainda estamos no Circular, um beco com saídas. Procuramo-las. Encontramos as respostas em “The Trap”, de Mariana Tengner Barros, dia 1 de Outubro, 21h30.
“É uma armadilha, sobre a derradeira armadilha (a sociedade do espectáculo) e as aberrações que propõe, a felicidade que induz, o modo como as pessoas se representam e se mostram, as tensões entre ‘parecer’ e ‘ser’, o glamour e a sua destruição, o ridículo que emerge nos processos de construção e desconstrução da nossa própria imagem e identidade”.