Um panorama nada radical

"O artista jovem que respira localmente precisa de salvaguardar o seu cérebro, bem distante da realidade trágico-cómica que experiencia no dia-a-dia"

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Duarte Encarnação

Não é difícil falar de arte contemporânea numa ilha com cerca de 260 mil habitantes, pois o assunto passa sobretudo por questionar se existe efectivamente a dimensão profissional sobre uma actividade necessária e humana. O artista jovem que respira localmente precisa de salvaguardar o seu cérebro, bem distante da realidade trágico-cómica que experiencia no dia-a-dia.

Raramente é privilegiado com uma leitura séria por parte do público especializado, galeristas (existem três apenas e de realidades completamente extremas), críticos (não existem), comissários (alguns) e jornalistas (pouco especializados), encontra melhores soluções no diálogo sincopado com os seus pares e sonda como qualquer outro artista os assuntos do globo aos quais não é alheio.

Os círculos elitistas e o senso comum continuam numa adoração aos clássicos da Madeira, Lourdes Castro, Herberto Hélder, Herberto Hélder, Lourdes Castro... outrora personagens de um cenário de vanguarda, hoje na retaguarda (o tempo passa).

O jovem artista contemporâneo da ilha vive no mundo possível das redes e do pensamento crítico. O verdadeiro calcanhar de Aquiles da arte contemporânea no contexto insular é a Casa das Mudas, representa a ausência de um programa estruturado e profissionalmente realizado por experts, oferecendo poucas oportunidades a estudiosos para um pretendido e vibrante cenário que deveria fazer eclodir novas gerações.

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The Foundry Duarte Encarnação

Não se dá uma interligação efectiva com outros centros artísticos do país, de facto, o programa artístico que dorme no Centro das Artes - Casa das Mudas, (“bunker” de qualidades tectónicas invejáveis e inquestionáveis no cenário da arquitectura nacional, é mais utilizado como obra em si e não como obra para...) é pouco aberto a funções experimentais e arriscadas quando colocamos a tónica no seu paradigma fundacional, o das artes visuais, mas que hoje na dura realidade representa uma disfunção, o vazio declarado de exposições-depósito garantidas pelo comendador Berardo.

Não existe o desejado curto-circuito criterioso para a arte contemporânea neste espaço, a atenção dada aos criadores locais ou é nula ou é alimentada por círculos de amizade exceptuando cartazes de qualidade inegável como acontece com a migração anual de artistas internacionais ligados ao fenómeno aproximado da “sound art” (Madeira Dig).

O centro beneficiava de um programa diversificado em arte contemporânea até 2008, ano em que toma uma direcção incerta e amadora, hoje não dispõe de direcção nem esboça uma possível programação para os próximos tempos (em arte contemporânea).

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