Nasceram depois de 70, não se lembram da Madeira sem Jardim

Para as gerações de 70, 80 e 90 não existe Madeira sem Jardim. Os jovens dividem-se sobre a liderança do líder regional

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Há gerações que não sabem o que é a Madeira sem Jardim no poder Adriano Miranda/arquivo

Quando as notícias do buraco financeiro da Madeira estouraram, uma parte do arquipélago corou. Havia uma ponta de vergonha e uma mão cheia de revolta: pela política do Governo Regional, pela situação financeira da Madeira. Pela imagem de todo o arquipélago posta em causa.

Mas não para todos. Uma (grande) parte da Madeira apoia as decisões do líder do Governo Regional. Os especialistas continuam a prever a vitória a Alberto João Jardim e Alberto João Jardim continua a não pensar noutro cenário que não seja o da vitória – e o da maioria absoluta. Derrota? "É uma conjuntura que não me passa pela cabeça", admitiu.

Micaela Camacho nasceu em 1977, Bruno Ferreira em 1973. Para eles não existe vida antes de Jardim, chegado ao poder em 1978. "Nasci e cresci no modelo jardinista", diz Micaela. E Bruno Ferreira completa: "Cresci a ouvir dizer que quem manda é o senhor Alberto João, é a figura máxima".

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Edgar Garrido (JSD Madeira)

"Inebriados", diz Raimundo Quintal

Raimundo Quintal está preocupado com os jovens madeirenses

Há gerações inteiras para quem não existe Madeira sem Jardim. E é nessa realidade que estão confinados - rodeados de água por todos os lados. Para Raimundo Quintal, geógrafo e investigador madeirense, esse alheamento é parte da justificação para a não-mudança no arquipélago: "Há uma grande parte das pessoas que vive inebriada", diz.

Jovens madeirenses têm de emigrar para garantir emprego, diz o politólogo Adelino Maltez

Mas Edgar Garrido Gouveia, 27 anos, vice-presidente da JSD Madeira, diz que isso não faz sentido. Quem não reconhece o que Jardim fez pela Madeira é "injusto e ingrato": "Sabemos que somos nós que vamos suportar este encargo, mas também somos nós que beneficiamos dele", diz. Vale mais suportar o buraco do que viver num buraco: "Seremos uma geração mais qualificada graças à obra feita por Jardim".

No dia 20 de Outubro, Raimundo Quintal decidiu abanar a realidade. Sabia que o Facebook era um "fermento" de consciências - e foi lá que angariou vozes que não querem calar. Os Madeirenses Indignados saíram à rua no domingo, dia 25.

Eram "cerca de 600", diz o investigador: "Um número muito interessante para uma terra que vive com medo". E o politólogo Adelino Maltez explica que não pode comparar-se um acontecimento destes na Madeira e no continente. 

Uma questão de micro-clima

Ser jovem no arquipélago é mais difícil do que ser jovem no continente, diz Bruno Ferreira. É uma afirmação fundamentada naquilo a que Adelino Maltez chama de "problema de micro-clima" da Madeira: "Num meio de 260 mil habitantes, quase tudo se conhece, as pessoas não se manifestam porque não querem ser vistas", diz.

Micaela Camacho diz que cresceu numa geração que só tinha dois canais de televisão, que não tinha acesso à Internet facilitado: "Vedaram-nos os olhos", lamenta. Também por isso, define a geração jardinista como uma geração de emigrantes. Mas Edgar Garrido dá voz aos apoiantes de Jardim: "As pessoas são livres na Madeira, têm infra-estruturas desenvolvidas e a emigração já não é uma necessidade".

"Os jovens estão a deslizar suavemente para a macrocefalia de Lisboa e outros centros urbanos", diz Adelino Maltez. Um fenómeno de fuga que se nota cada vez mais: "É um antecipar daquilo que qualquer jovem prevê, de que na terra dele não terá emprego". 

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