Margarida Balseiro Lopes: “Não vou abdicar de lutar pela defesa da nossa geração”
A recém-eleita líder da JSD venceu o adversário André Neves por 86 votos.
Recém-eleita presidente da JSD, Margarida Balseiro Lopes prometeu uma postura activa face aos problemas da sua geração, entre os quais destacou o emprego. O seu discurso alargou-se a outros sectores, como a saúde, o cuidado com o território e a cultura, com um tom crítico face ao Governo socialista.
“O maior desafio da minha vida”. A deputada Margarida Balseiro Lopes concluiu assim o primeiro discurso como presidente da ‘jota’ social-democrata, no qual reiterou a capacidade das gerações mais novas, incluindo a sua, – tem 28 anos –, “várias vezes ignoradas nas decisões”, para construírem “um futuro melhor para Portugal”.
“Uma sociedade desenvolvida constrói-se na valorização de todas as gerações. Não vamos alinhar nas guerras de gerações, mas não vamos permitir que sejamos esquecidos. Não vou abdicar de lutar pela defesa da nossa geração”, frisou no discurso de vitória, que, neste domingo, encerrou o 25.º Congresso Nacional da JSD, na Póvoa de Varzim.
Eleita para líder da Comissão Política Nacional com 336 votos dos militantes presentes, a primeira mulher a presidir a organização falou após o presidente do PSD, Rui Rio, e realçou que a “educação é o centro do modelo de desenvolvimento” que defende. Aos seus olhos, “o que se passa nas salas de aula é idêntico ao que se passava há 100 anos” e Portugal só poderá ser competitivo se apostar na ciência, na tecnologia e na inovação.
Além de defender na moção com que venceu a eleição, “Conquistar Portugal”, a digitalização dos manuais escolares e a introdução da Programação no 1.º ciclo, Margarida Balseiro Lopes considerou ainda que as escolas devem ter mais autonomia para colocarem os “estudantes no centro do processo de aprendizagem”.
Até agora presidente da distrital de Leiria e secretária-geral, a nova presidente da JSD alargou o discurso ao ensino superior, a seu ver, pilar da “sociedade do conhecimento” no qual “todos devem ter a oportunidade de se formar e buscar as suas melhores condições de vida, independentemente da carteira".
Além de ter enaltecido a acção da JSD para, em conjunto com as associações de estudantes, impedir, no ano passado, o maior aumento de sempre nos preços das cantinas e do alojamento, a responsável contrapôs ainda a mudança no regulamento das bolsas promovida no tempo do Governo de Passos Coelho, que evitou mais abandonos no Ensino Superior, com a acção do actual Governo, a quem acusou de “falta de iniciativa”.
Mas, para Balseiro Lopes, o maior problema hoje associado à juventude é a existência de “tantos jovens à espera de uma oportunidade para entrarem no mercado de trabalho, que fazem parte da geração mais qualificada e preparada de sempre”. Mais “fracturante”, a seu ver, do que a eutanásia e a prostituição, temas sobre os quais recusou falar, o problema do emprego pede a reflexão sobre questões como a “automação, a robotização e a inteligência artificial” e o rendimento básico incondicional.
A sucessora de Simão Ribeiro num cargo que já foi, por exemplo, ocupado pelo anterior primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, entre 1990 e 1995, e pelo eurodeputado Carlos Coelho, de 1986 a 1990 - a quem agradeceu pelo “exemplo de vida” -, prometeu ainda aproveitar as ideias presentes na moção “É tempo da JSD”, do candidato derrotado, André Neves. A Rui Rio, Margarida disse que pode contar com uma “JSD leal, exigente e irreverente”, mas “sobretudo livre e autónoma”.
Críticas à acção do Governo na saúde e no interior
Margarida Balseiro Lopes acusou o Governo de não agir em conformidade com o que apregoa, nomeadamente nos problemas vividos no sector da saúde. “A contestação de várias classes profissionais é a prova de que algo está errado. A política é a arte de decidir, e não se percebe como é que alguém pode decidir por clientelas em vez dos utentes do Serviço Nacional de Saúde”, apontou.
As críticas da recém-eleita presidente da JSD estenderam-se aos protestos recentes dos vários dos sectores da cultura para com os apoios do Governo e ao abandono do interior, que, a seu ver, ficou bem patente com os incêndios que lavraram no ano passado, em Junho, em Pedrógão Grande, e, em Outubro, mas também com a incapacidade para tratar de forma diferente empresas que operam no litoral e no interior. “Não podemos aceitar que uma empresa no interior pague o mesmo IRC que uma que está no litoral”, sublinhou.