Candidatos à liderança apresentam as suas ideias
Margarida Balseiro Lopes e André Neves são adversários na corrida à liderança da Juventude Social Democrata
Margarida e André já estão no final da caminhada que levará apenas um deles à presidência da JSD, na eleição agendada para o último dia do congresso que começa esta sexta-feira na Póvoa de Varzim. Nas últimas semanas têm andado em campanha a apresentar as suas ideias e moções para tentarem convencer os jovens das suas capacidades de liderança. O PÚBLICO falou com os dois candidatos, ela, deputada, de 28 anos, e ele, líder da JSD de Aveiro, também de 28 anos.
Margarida Balseiro Lopes
“Sou a favor da eutanásia e da [legalização da] prostituição”
Na sua moção, escreve que a JSD será a força motriz da Escola do Futuro. Como é que isso pode acontecer?
O diagnóstico que fazemos é que a escola ao contrário de quase tudo não evoluiu. Os métodos de aprendizagem, a forma como os alunos são dispostos nas salas de aulas em filinhas parece uma fábrica. Há um vídeo muito interessante que mostra um telefone, um carro e uma sala de aula e, no caso da sala de aula, a única diferença que existe é que a fotografia é a cores. A escola deve promover logo no primeiro ciclo de ensino a programação, porque hoje em dia é tão importante aprender a programar como aprender a ler e a escrever.
O Fórum Económico Mundial que diz que até 2020 os 15 países mais desenvolvidos em termos de economias emergentes vão perder cinco milhões de empregos em resultado ao avanço das tecnologias. Mais do que sermos fatalistas vamos preparar as nossas crianças já para revolução que já está em curso - a revolução tecnológica. É preciso proceder à substituição gradual dos manuais tradicionais por manuais escolares digitais.
Propõe que se discuta a questão do Rendimento Básico Incondicional. É contra ou a favor?
Não tenho uma posição definida. Agrada-me o argumento de garantirmos o nível mínimo de subsistência às pessoas na lógica de que ninguém fica para trás, mas um dos perigos que existe é o desincentivo ao trabalho e ao esforço. Acho que esta é uma discussão que para alguns é uma utopia, para outros é um delírio, mas para outros ainda é uma discussão que a JSD tem obrigação de fazer.
Defende debates alargados à escala nacional sobre temas fracturantes (como a eutanásia, a legalização a prostituição ou das drogas leves). O que pensa sobre esses assuntos?
Sou a favor da eutanásia, sendo que relativamente a esta matéria a JSD deve fazer debate, mas não deve assumir nenhuma posição oficial porque, para mim, e para qualquer pessoa, é uma questão de consciência. Ninguém é dono da consciência dos militantes. Relativamente à prostituição sou a favor, primeiro por se tratar de uma questão de saúde pública e em segundo porque não fazendo juízos de valor sobre quem recorre à prostituição é uma realidade que não garante a segurança nem a protecção das mulheres. Quanto às drogas leves - que é iminentemente a discussão da cabanis -, acho que para fins medicinais a questão está relativamente resolvida porque já é possível pedir uma autorização ao Infarmed para que um determinado medicamento à base de canábis possa ser administrado. Relativamente aos fins recreativos da canábis, considero que o Estado deve controlar, regular e não se pode demitir de uma realidade que está a olho nu. Há experiências para as quais podemos olhar como é o caso do Alasca e do Colorado, nos Estados Unidos, em que numa lógica de prevenção e de saúde pública temos resultados bons em consequência dessa regulação.
O que a distingue do seu adversário?
Somos pessoas diferentes e temos percursos diferentes. [Na campanha] não tenho atacado ninguém. Tenho dividido a minha atenção entre apresentar propostas e a minha visão futuro para a JSD. Nos temas que quero tratar, exijo que a JSD seja independente relativamente ao partido e aberta à sociedade civil e que tenha uma agenda com temas de futuro.
Aceita que haja disciplina de voto na questão da identidade de género, que será votada na sexta-feira na AR?
Sim, não me choca nada. Não concordo com a redução da idade dos 18 para 16 anos [para mudar de nome e de sexo no registo]. A questão de não haver relatório médico é um erro e a redução da idade é outro erro. Vou votar contra.
Está satisfeita com os primeiros tempos da liderança do PSD?
Há quem esteja a fazer análises precipitadas. Tem de se dar tempo a Rui Rio para daqui a sete meses se avaliar a sua liderança. Rui Rio foi empossado líder do PSD há um mês no congresso do partido e isso não pode ser o critério para o avaliar. Tenho expectativa de que ele faça uma oposição firme.
André Neves
"A JSD tem de ter capacidade de falar para o futuro"
No seu manifesto, fala numa “nova agenda, que seja voz dos problemas actuais da juventude portuguesa”. A que problemas se refere?
As estruturas partidárias de juventude tem estado desadequadas daquilo que são as causas dos jovens, dos problemas que sentem no seu dia-a-dia e aquilo que eu acho é que devemos de ter uma agenda política que vá de encontro às causas com que os jovens hoje se identificam. Temos um espectro eleitoral que é grande e nós temos de falar para os jovens que têm 16 anos (ensino secundário); para aqueles que têm 17, 18 ou 19 (ensino universitário e profissional) e temos ainda que falar para os jovens que têm 22, 23 ou 24 e que se preocupam com a sua inserção profissional.
Temos de ter capacidade de nos preocuparmos e de falarmos para os jovens que se querem emancipar e que vêm os custos de habitação disparar para o arrendamento permanente nos grandes centros urbanos, ou para os jovens que vêm hoje os seus salário 19% mais baixo do que há 20 anos para um emprego qualificado. A JSD tem de ter capacidade de falar para o futuro. O futuro do país tem de ser discutido pelas juventudes partidárias. Temas como a sustentabilidade da Segurança Social, questões ambientais ou a reforma do Estado que nunca existiu são temas que têm de fazer parte da agenda da JSD. Aliás, uma das grandes preocupações da nossa estrutura partidária é a falta de reformas que o país precisa.
Propõe um debate alargado para refundar a organização da JSD. Será uma espécie de Conselho Estratégico Nacional como o dr. Rui Rio vai fazer no partido?
O que pretendo desenvolver no âmbito de uma refundação da organização da JSD passa por um conjunto de medidas estruturais. Tenho explicado, nas várias sessões de esclarecimento que tenho realizado pelo país, que uma das primeiras acções que tomarei depois de eleito é a convocação de um congresso para promover uma revisão estatutária. Tenho defendido que é necessário modernizar a JSD - trazer a JSD para o século XXI. Essa refundação passa, por exemplo, por uma alteração no método de eleição do presidente da JSD. Proponho que todos os participantes possam votar directamente e através de voto electrónico na escolha do presidente da estrutura.
O que o distingue da sua adversária?
A forma como fazemos política, a forma como cada uma de nós vê a JSD. A JSD deve ser livre, deve ser uma estrutura autónoma em que os militantes podem pensar e agir em conformidade com aquilo que é a sua consciência. A Juventude Social-Democrata comigo na liderança será uma JSD em que cada militante tem direito à sua opinião. Não é por ter uma opinião contrária à minha que será posto de parte. Quero deixar claro, que comigo na liderança da JSD ninguém será posto de parte por pensar diferente. Tenho um conjunto de propostas profundas que são completamente revolucionárias na forma como a estrutura existiu até hoje.
Está satisfeito com os primeiros tempos da liderança do PSD?
Assistimos a alguns episódios conturbados, mas isso foi mais seguido atentamente pelos dirigentes internos do que propriamente pelos cidadãos. A liderança do novo presidente do PSD está a ir de encontro às minhas expectativas porque o dr. Rui Rio não é um líder para a espuma dos dias, é um líder para promover as reformas estruturais que o pais precisa. Estou a falar concretamente da reforma do Estado, da reforma da Segurança Social, da reforma da Justiça. Aquilo a que assistimos nos últimos três anos foi a um Governo que viveu unicamente do bom ciclo económico em termos europeus e que não fez uma única reforma estrutural.