Pinhal de Leiria recebeu meio milhão de árvores desde os incêndios
Cerca de dois terços da área da Mata será reflorestada através de regeneração natural, com a germinação de dezenas de milhões de plantas.
O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e centenas de voluntários já plantaram mais de 500 mil árvores em acções de reflorestação da Mata Nacional de Leiria (MNL), cujo pinhal ardeu em Outubro de 2017.
"Nas acções de rearborização já executadas na MNL, o ICNF plantou cerca de 210.000 plantas", anunciou fonte desta estrutura, informando que "entre as árvores encontram-se diversas espécies florestais como pinheiros, sobreiros, choupos, castanheiros, carvalhos, faias e plátanos".
Já no âmbito das acções de voluntariado de centenas de pessoas foram plantadas cerca de 300 mil árvores, acrescentou aquele organismo, ao explicar que "todas as iniciativas de replantação (voluntariado) que ocorreram na MNL foram objecto de aprovação prévia do ICNF" e "têm sido sempre acompanhadas do ponto de vista técnico e operacional" por esta entidade, "que disponibiliza recursos humanos, cede plantas e espaços para o efeito".
O ICNF revelou à Lusa que a Mata Nacional de Leiria será "reflorestada com recurso a dois métodos distintos de rearborização: a plantação e a regeneração natural". "Cerca de dois terços da área da Mata será reflorestada através de regeneração natural, com a germinação de dezenas de milhões de plantas. Uma outra área, de menor dimensão (perto de 4000 hectares), na qual não será possível obter uma regeneração natural devido à idade muito jovem dos povoamentos de pinheiros bravos, será reflorestada com recurso à plantação de um elevado número de árvores", informou ainda.
Para este organismo, neste momento, "é prematuro avançar com um número de plantas necessário, tendo em conta que todo o processo de plantação será enquadrado no âmbito do Relatório da Recuperação das Matas Litorais, da responsabilidade da Comissão Científica, que se encontra em elaboração". Este documento "conterá as linhas orientadoras", nomeadamente "espécies, áreas e densidades dos povoamentos a estabelecer por plantação, das acções de rearborização que são relevantes para a MNL".
Apesar das plantações idênticas às que se têm efectuado no Pinhal de Leiria ocorrerem, "de uma forma genérica, na primavera e no outono, estações do ano em que o clima é habitualmente mais adequado para a plantação", o ICNF afirmou que "são as condições meteorológicas que determinam o início e o fim das plantações", pelo que "não é possível determinar com exactidão a paragem do processo de reflorestação na MNL e o seu recomeço".
Os incêndios de Outubro de 2017, que atingiram 36 concelhos da região Centro, provocaram 49 mortos e cerca de 70 feridos, e destruíram total ou parcialmente perto de 1500 casas e cerca de meio milhar de empresas.
Extensas áreas de floresta e de terrenos agrícolas foram igualmente destruídas pelos fogos de 15 e 16 de Outubro de 2017, que afectaram de forma mais grave os municípios de Castelo de Paiva e Vagos, no distrito de Aveiro; Oleiros e Sertã (Castelo Branco); Arganil, Figueira da Foz, Lousã, Mira, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Penacova, Tábua e Vila Nova de Poiares (Coimbra); Gouveia e Seia (Guarda); Alcobaça, Marinha Grande e Pombal (Leiria); e Carregal do Sal, Mortágua, Nelas, Oliveira de Frades, Santa Comba Dão, Tondela e Vouzela (Viseu).
Nas manchas florestais atingidas, destaque designadamente para o Pinhal de Leiria, na Marinha Grande, que ficou reduzido a cerca de 20% da sua extensão, e seus prolongamentos para norte (Mata Nacional do Urso, em Pombal) e para sul (orla costeira de Alcobaça), para as matas nacionais de Quiaios (Figueira da Foz), onde arderam mais de três mil hectares, equivalentes a cerca de 50% da sua área, e da Margaraça (Arganil), classificada como Reserva Biogenética do Conselho da Europa, que perdeu cerca de 70% da flora, e ainda para o Parque Natural da Serra da Estrela, penalizado nos municípios de Gouveia, Oliveira do Hospital e Seia.
Na sequência dos fogos que deflagram em 15 de Outubro foram consumidos mais de 220.000 hectares de floresta, cerca de 45% da área total ardida durante 2017, de acordo com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Os dois incêndios que, em Outubro, destruíram maiores áreas ocorreram no distrito de Coimbra, nos concelhos da Lousã, onde foram atingidos cerca de 43.900 hectares, e de Oliveira do Hospital (perto de 43.200 hectares).
Mira faz restauro ecológico de zonas florestais
Mira vai investir 243 mil euros na limpeza e restauro ecológico das áreas florestais atingidas pelos incêndios de Outubro de 2017, fruto de duas candidaturas ao programa PDR 2020, disse nesta quarta-feira o presidente da câmara. "Numa altura em que passam seis meses sobre os trágicos acontecimentos de 15 de Outubro a Câmara quer deixar um sinal claro aos mirenses de que continua empenhada na recuperação das riquezas do nosso concelho", explicou à agência Lusa Raul Almeida.
A Câmara de Mira e a Junta de Freguesia de Mira apresentaram duas candidaturas complementares a fundos comunitários, através do recurso à acção 8.1 (Silvicultura Sustentável) da Medida 8 (Protecção e Reabilitação dos Povoamentos Florestais) do Programa de Desenvolvimento Rural do Continente (PDR 2020). Esta medida é destinada ao "restabelecimento da floresta afectada por agentes bióticos e abióticos ou por acontecimentos catastróficos", como foi o caso dos incêndios de 15 de Outubro, que consumiram mais de mais de 6775 hectares de área florestal do concelho.
Em ambos os casos, as candidaturas tiveram uma taxa de apoio ao investimento de cem por cento. A candidatura da Câmara Municipal foi contemplada com 198.684,40 euros e da Junta de Freguesia com 43.000 euros.
Este dinheiro vai agora ser investido em acções de limpeza e restauro ecológico, nomeadamente na recuperação de troços de rede primária e secções da rede secundária das chamadas faixas de gestão de combustível e na substituição de sinalização danificada de informação florestal. Irão ser levadas a cabo também medidas de prevenção da contaminação e assoreamento e recuperação de linhas de água e de combate à diminuição da perda de biodiversidade.
Uma vez que grande parte da mancha florestal atingida pelos incêndios pertence às matas nacionais, a Câmara de Mira assinou com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas um acordo de parceria que lhe permite intervir temporariamente no Perímetro Florestal das Dunas e Pinhais de Mira. Com financiamento assegurado pelas duas candidaturas, a autarquia vai poder intervir no corte e estilhaçamento de material lenhoso sem valor comercial, cortando madeira queimada e removendo árvores que tombaram em cursos de água. Vai ainda instalar abrigos e comedouros para a fauna selvagem e colocar sinalização de risco de incêndios.
Penacova vai criar zonas de protecção contra incêndios
A Câmara de Penacova quer ajudar a criar zonas de protecção em aldeias do concelho, à imagem do que foi feito na aldeia de Ferraria de São João, Penela, que eliminou os eucaliptos nos 100 metros em redor da localidade. "O objectivo é basicamente tentar seguir o modelo que tem sido seguido, definir uma determinada área, os tais 100 metros e, nessa área, criar um tipo de ocupação do espaço diferente", disse à Lusa o presidente da câmara, Humberto Oliveira.
O autarca de Penacova, um dos concelhos afectado pelos grandes incêndios de 15 de Outubro de 2017, já visitou a Ferraria de São João, aldeia no concelho de Penela, afectada pelo grande incêndio de Pedrógão Grande e que decidiu eliminar os eucaliptos numa faixa de protecção de 100 metros à volta da localidade.
O projecto deverá avançar na aldeia de Castinçal, da União de Freguesias de São Pedro de Alva e São Paio do Mondego, e também deve ser aplicado em várias das aldeias da antiga freguesia de Friúmes, podendo, neste último caso, surgir em momentos e velocidades diferentes, referiu. "Em Friúmes, foi a sociedade civil que se mobilizou para o efeito e o projecto nasceu no seio da sociedade civil e da junta de freguesia. Já no caso do Castinçal, a câmara é proprietária de terrenos", o que torna mais fácil avançar com o projecto nessa localidade, explicou.
O processo "poderá passar pela plantação de algumas espécies florestais, mas mais por uma ocupação agrícola do território, num modelo diferente de gestão do espaço", explanou Humberto Oliveira. O município sublinhou, surge apenas como parceiro da iniciativa. "O que pretendemos é que seja uma vontade da sociedade civil. Seremos parceiros e vamos dar o apoio dos nossos técnicos e apoios, eventualmente, para plantar ou semear", vincou.
De acordo com Humberto Oliveira, estão identificadas pessoas em aldeias que "vão ser os primeiros parceiros do projecto e os mobilizadores" da restante comunidade. O autarca espera que os projectos estejam a avançar para o terreno dentro de dois meses, em pelo menos duas aldeias. "Pode haver modelos diferentes em função do que estiver em cada um dos espaços", explicou, considerando que os exemplos do incêndio de Pedrógão Grande, nomeadamente o de Ferraria de São João, motivaram a iniciativa que agora se pretende iniciar em Penacova.