As aves andarilhas

Para atrair os andorinhões precisamos das moscas e dos mosquitos. Estamos a perder estupidamente os nossos insectos. Que será dos passarinhos?

É oficial: o IPMA anunciou que já não há seca em Portugal. Choveu tanto que acabou a seca. Ou, na versão mais completa do IPMA "a ocorrência de valores muito elevados da quantidade de precipitação em todo o território do continente teve como consequência o final da situação de seca meteorológica". A versão popular portuguesa é bastante mais curta: "Em Abril, águas mil".

Neste mês de Abril têm sido vários os dias em que o sol brilhou e chegou aos 20 graus em Copenhaga e Munique enquanto aqui em Portugal, seja em Cascais ou Tavira ou Melgaço, chove e está frio. Claro que não faz diferença absolutamente nenhuma porque todos nós estamos a transpirar de tanto dançarmos e festejarmos o fim da seca.

Uma coisa é certa: se não tivéssemos passado tanto tempo a debater a seca, a castigarmo-nos e a fotografar leitos rachados, teria sido impossível precipitar estas salvíficas chuvas.

Apareceram entretanto as andorinhas e os primeiros andorinhões. Peço-lhes desculpa da janela. Escrevem no céu: "onde estão os mosquitos, porra?" Encolho os ombros. Na sala de estar há duas moscas que nos tornaram reféns no primeiro dia da Primavera mas não consigo convencê-las a ir à janela: têm um medo ancestral das aves andarilhas. Porque será?

No dia seguinte os andorinhões desapareceram. Terão emigrado para a Dinamarca? É lá que se aglomeram as melgas de 2018?

Para atrair os andorinhões precisamos das moscas e dos mosquitos. Estamos a perder estupidamente os nossos insectos. Que será dos passarinhos?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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